Lucas e a descoberta do moto-contínuo da internet
Edberto Ticianeli
Não me recordo como o assunto começou a ser discutido, mas a participação ativa dos presentes denunciava que existia uma boa polêmica no ar.
Opinava-se fervorosamente contra e a favor da possibilidade de existir a máquina do movimento perpétuo, sonho de alguns cientistas e pesadelo dos proprietários de postos de combustíveis.
— Essa tese contraria as leis da Física. Não pode existir uma máquina que produza mais energia que a consumida —, argumentava Neilton, um próspero negociante de automóveis que não dormiu nas aulas de Física do Colégio Guido.
E lá foi a conversa ladeira acima e ladeira abaixo por mais de uma hora.
Ao lado, sentado e sem tirar os olhos e os dedos do celular, Lucas, filho do Júnior e da Valnar, acompanhava toda a discussão com interesse. Com dez anos de idade, vez por outra, olhava para quem apresentava argumentos estapafúrdios e ria levemente, em discordância.
Quando o assunto parecia se encaminhar para a conclusão mais acertada, com a maioria aceitando a impossibilidade do moto-contínuo, ouviu-se a voz do Lucas:
— Eu acho que existe um negócio que é como esse moto-contínuo na internet.
Nas reações que surgiram, predominava o riso. Mas como era uma criança que falava, despertou a curiosidade de todos. Ele tratou de explicar.
— Sabe aquela resposta automática que você configura no Zap? A pessoa recebe uma mensagem e automaticamente vai uma resposta para quem enviou. Agora pense numa coisa: e se as duas pessoas estiverem usando o modo de reposta automática? Vão ficar trocando mensagem sem parar pelo resto da vida, né não?
Ninguém conseguiu responder. Agora predominava no grupo a “cara de tacho”.
Em tempos digitais, “Física” infantil é para poucos…
Nestes tempos de realidades virtuais, há questões discutidas entre adultos, com ou ou sem anéis acadêmicos nos dedos, que só lógica infantil pode resolver… rsrsrs