A Riviera dos meus sonhos

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Eu já tinha jogado a toalha em cima das letras e das páginas em branco da minha vida. Mas é impossível resistir a dizer uma palavra; fazer uma reflexão sobre a genial ideia do mágico Donald Trump.

Transformar os Estados Unidos da América na maior imobiliária do mundo, com o selo “Trump-Netanyahu Incorporated Real Sales”. A demolição das porcarias mal feitas de prédios, hospitais, escolas, prisões, casas de gente com pele e osso de humanos foi o mais fácil.

O sócio Netanyahu fez um excelente trabalho. Sobrou muito pouco, e isso ele pode terminar no mais breve prazo possível.

O que interessa neste momento de desvario e alucinação errante da antiga população dessa faixa linda de terra à beira mar é aproveitar a oportunidade para exterminar o que resta do que consideram uma sub-raça. Pretendem construir múltiplos Resorrts oito estrelas, plantar coqueiros e selecionar o que há de melhor no mundo da gastronomia e da diversão. Exatamente no padrão da nossa Rede Globo do Brasil: o futuro chegou. Chegou para ficar por mais cem anos.

Muito inteligente e hábil o Donald. Segundo sua mãe, ele sempre foi assim desde criancinha. Até ela ficou surpresa quando ele quis fazer o pai, Fred, assinar um papel dando como garantia de créditos para a construção do Cassino dourado Taj Mahal em Atlantic City, todos os fundos guardados pela família para o futuro de todos os filhos.

O pai, com Alzheimer, não assinou porque a mãe Mary vetou. Donald não gostou. Seguiu em frente.

Tinha muita vergonha de trabalhar em uma imobiliária familiar da periferia. Imagine construir condomínios no bairro mais popular e lascado de Nova Iorque: Queens, bairro de pretos, porto-riquenhos, asiáticos, latinos e ainda por cima brasileiros — que não se veem como latinos, mas como uma raça forte e superior, igual aos anglo-saxônicos —; até porque foram sempre os melhores e mais rápidos imitadores das particularidades dos Estados Unidos, inclusive a de eleger um presidente considerado o Trump da América do Sul.

Mas igual ao Trump não conseguem. Nenhum país do mundo conseguirá eleger um presidente tão ladino e inteligente quanto nosso amado Donald. Ele só pensa em fazer a América grande e se possível bem maior do que é atualmente, com novas e grandes incorporações e aquisições, exportando o bem para o resto da humanidade. Para ajudar nessa reconstrução mundial, cercou-se dos melhores assessores do mundo na gestão Trump 2.0.

Essa imobiliária da Casa Branca vai ser a culminação de uma longa jornada de aventuras empresarias no mundo urbano global. Dourado, com muito jade, mármore e candelabros para todos.

— Me passa aí o caviar por favor com uma colher de sopa dourada nova e esterilizada. Não posso ser contaminado por vírus e bactérias. Agora estou chegando onde queria: falta dar um nó no chinês sorridente e no meu amigo Putin. Mas com Elon Musk trabalhando por trás das cortinas chego lá.

Vocês vão ver que tenho razão: dentro de três anos no máximo Gaza será uma Riviera incrível, com a convivência pacífica de cristãos, árabes e muçulmanos; todos juntos em harmonia, riqueza e prazer.

Mas vamos deixar bem claro: no primeiro dia de governo nos territórios conquistados, envia-me as bombas vetadas pelo Biden para a demolição completa e exterminação final desse povo terrorista que ainda ocupa Gaza.

O governo norte-americano não vai gastar um tostão para construir essa nova Riviera do Oriente Médio.

O Netanyahu não vai ser preso, mas tem que sumir do mapa.

Nós nos acertaremos com a Autoridade Palestina. Tudo será feito com o derrame de trilhões de dólares privados da nova imobiliária: TRUMP GLOBAL INCORPORATIONS. O Elon Musk e o meu genro judeu, Jared Kuchner, pai dessa ideia fantástica, vão ajudar com bitcoins e dinheiro vivo.

Plantaremos coqueiros. Estrelas no céu, chamaremos as morenas do Tropicana de Havana e a festa vai rolar. Vai rolar.

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