Golpe Militar matou Rubens Paiva e a Globo estava lá

Edberto Ticianeli
Jornalista

Quem assiste a canais fechados de televisão tem percebido que as merecidas celebrações em torno do filme “Ainda estou aqui” e do notável desempenho da atriz Fernanda Torres tomam programas inteiros na Globo News. É óbvio que o reconhecimento do cinema nacional pelos dois principais prêmios do setor — Globo de Ouro e Oscar —, merece ser comentado e noticiado, mas também não se pode negar que o “oba-oba” de certas emissoras incomodam pelo exagero.

Os comentaristas quase sempre esquecem que as “Eunices Paivas” da luta contra o autoritarismo sempre estiveram “aqui”, no Brasil da democracia, e que a Globo, por mais que se desculpe envergonhadamente, sempre esteve do outro lado, namorando os golpes. Quem conhece a história sabe o que os Marinhos aprontaram contra Getúlio Vargas, Jango e Lula, este teve a sua prisão transmitida em cadeia nacional e comemorada com intensidade pelos donos da Globo.

Para quem não sabe, o filme “Ainda estou aqui” foi produzido pela RT Features e VideoFilmes em parceria com Globoplay, Mact Productions, Conspiração Filmes e Arte France Cinéma. São empresas da indústria do cinema que atuam em busca de viabilidade econômica em seus projetos. Não há nada de errado nisso, mas é preciso que fique claro que muito do que se tem divulgado faz parte do marketing que busca vender o filme.

Felizmente, como o filme se baseia numa obra do Marcelo Paiva, filho do Rubens Paiva, fica iluminada a trajetória de Eunice Paiva e a denúncia dos crimes cometidos pela Ditadura Militar. É um fato a ser festejado pelos fãs de cinema e pelos que querem conhecer parte da história do país, período em que a Globo calou enquanto Rubens Paiva estava sendo assassinado nas dependências de um quartel militar entre 20 e 22 de janeiro de 1971.

Essa mesma alegre emissora não denunciou quando o corpo do bravo deputado era enterrado e desenterrado, até que esse périplo infernal tivesse fim em 1973, quando seus restos foram atirados ao mar. Também não deu uma linha em seus impressos sobre o empenho de Eunice Paiva, que não arrefeceu as cobranças para que os “desaparecidos” fossem tratados como vítimas da Ditadura Militar e merecedores das certidões de óbito.

Desculpem-me, mas não consigo expressar felicidade com as merecidas vitórias alcançadas pelo filme. Conheço o que aconteceu. As lembranças do terror e dos que morreram ofuscam qualquer outro sentimento. Da mesma forma, não reconheço o direito da Globo festejar esse sucesso. Ela estava lá, do outro lado, alinhada com os militares, enquanto Rubens Paiva era torturado e assassinado.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

2 comentários em “Golpe Militar matou Rubens Paiva e a Globo estava lá

  • 25 de janeiro de 2025 em 14:51
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    Quem foi preso e torturado , se saiu vivo , abriu o bico

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  • 25 de janeiro de 2025 em 20:25
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    Muito bem! A Globo fez papel de conivente com o assassinato e agora fatura em cima do cadáver.

    Resposta

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