O sabor da palavra

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Em Portugal tudo sabe bem. Sabe bem o vinho do Porto, o queijo da estrela, o percebes, o cheiro da miúda e o beijo na varanda. Nada mais certo e lógico. Lá, saber vem de sabor. O palato é quem sabe o sabor.

Gosto muito do saber das palavras. As palavras sabem bem, frescas, naturais, cozidas ao vapor, fritas na banha de porco. Não importa; sabem bem.

Sempre sabem bem quando não cortam a carne e derramam o sangue de inocentes. Sabem mal quando lançam perdigotos de ódio na cara do vizinho, do outro, inocentes, que não sabem o sabor do mal, humilhados, rechaçados, violentados e abandonados.

O que me intriga no sabor das palavras são os sons transmitidos pelo ar, na rádio, na Tv, no espaço sideral. Além de saber bem ou de saber mal as palavras tem cores.

Cores incríveis e ainda virgens em todos os espectros. O mar para minha língua adocicada é um menino correndo na areia, soltando pipa, pescando peixes elétricos.

O mar, em francês, é uma mulher perfumada, sensual, alumiada por uma lua feminina que na Alemanha se transforma em um homem, guerreiro, alfa e beta. ”Der mond liebt la mer”: o lua ama a mar.

Para mim não sabe bem. A lua para mim sempre será feminina, amarela, alaranjada, vermelha nos seus dias de menstruação marítima; e negra na noite escura do mistério que bate em nossos corações e no infinito sem princípio e sem fim. Eterno.

O mar, por sua vez, feminina na França, virou homem na minha língua: o mar. Nem por isso deixou de ser belo e luminoso como o lua na Alemanha e a mar nas costas mediterrâneas e atlânticas da França.

Não importa se é hip hop, rap, funk, valsa, forró, cançonetas, canções, bolero, samba ou tango. Se há música na matemática e matemática na música sabem bem em toda parte.

Bossa Nova no Japão, forró em Nova Iorque e Piazzola em Buenos Aires. É o ar que tu respiras o que importa.

O amor que respira o sangue das nossas almas, o cheiro da chuva, o passo doble do luar no ritmo do mar.

Sabe bem essa cachaça com mel, no fundo do teu olhar, que fala, sem respirar, signorina, bella mia.

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