Salve-se quem puder
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Maluco, louco, doido, insano, vá lá saber o que se passa na cabeça do leão do Kremlin. Saiu da toca cuspindo mísseis pela boca sem pedir licença a ninguém.
Embaralhou a estratégia da China de comer o globo pelas beiradas, pacificamente, a médio prazo, trocando, aos poucos, o desgastado dólar pelo yen como moeda fiduciária no seu comércio internacional e investimentos globais.
Comprou terras e investiu em infraestruturas em todos os quadrantes da terra plana e redonda, comandada por ditadores, liberais, fascistas e imbecis, em sua grande maioria.
O leão do Kremlin só avisou ao panda pequinês que ia melar o jogo e pegar, antecipadamente, o seu naco de carne depois de jurar amizade incondicional e eterna ao seu vizinho oriental; propondo aliança de noivado para desfazer o casamento interesseiro do “irmão” oriental com o rico Ocidente, decadente e carcomido pelas lutas intestinas entre grupos de interesses dominantes em suas democracias de fachada.
Colocou Pequim em uma sinuca de bico histórica. Quem está comigo é meu amigo, quem não está é meu inimigo.
O cenário escolhido para testar esse cabo de guerra, fora de hora, com o Ocidente foi a Ucrânia e o seu histórico nacionalismo.
Dividida entre o leste russófono e ortodoxo e o oeste, católico e ocidental, mas sempre unida etnicamente como nação, antes mesmo da existência da Rússia imperial ou soviética.
Racistas, na mesma medida dos anglo-saxões e germânicos, os eslavos russos sempre desprezaram a periferia do império czarista e da posterior união das repúblicas socialistas soviéticas.
Por cima do discurso da irmandade mundial dos trabalhadores subsistiu o preconceito e o sentimento de superioridade racial. Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão, Ucrânia, Geórgia e todos os demais membros incorporados à União Socialista dos Soviéticos serviam para produzir e enriquecer o Estado.
E o Estado sempre foi simbolizado e centralizado; no Império por São Petersburgo, na União Soviética por Moscou, onde Putin está, no momento, trancado em sua fortaleza histórica do Kremlin, falando por telefone com Xi Ji Ping.
O líder chinês faz de conta que é amigo. Conhece muito bem a história do Ocidente e do Oriente e as manobras da Rússia para isolar a China, antes, durante e depois de Mao. Está sempre impassível e sorrindo, como bilhões de chineses ao seu comando.
A China não vai embarcar no jogo suicida de um louco sentado em um trono de ouro no Kremlin. Vai pagar para ver o final desse ensaio de terceira guerra mundial proposto por Putin, com os seus testes de mísseis nas cabeças das velhinhas e velhinhos, crianças e mulheres: antigos servos ucranianos, que podiam ser vendidos e comprados pelos senhores feudais da Rússia dos Czares.
Meus amigos africanos e cubanos negros que estudaram e se formaram na Rússia soviética falavam sobre a solidão e invisibilidade que amargaram em seus anos de juventude na ex-União Soviética. Trauma que explicou parcialmente o pé na bunda que os movimentos independentistas na África negra deram nos soviéticos. Preferiram, claro, os cubanos.
Como vai acabar essa superprodução de Putin ninguém sabe. Ninguém.
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