A foto do meu amigo Estevão Oliveira
Edberto Ticianeli – Jornalista
Alagoas perdeu nos últimos dias personagens importantes da sua história política mais recente. Alguns deles com atuação nacional, como o jornalista Audálio Dantas.
Entre os outros, vou me permitir destacar o que talvez seja o menos conhecido do grande público.
Assim procedo também movido pela maior aproximação que tinha com ele. Refiro-me ao meu amigo Estevão Oliveira.
Nos conhecemos nas lutas políticas que marcaram a presença dos militantes do PCdoB no final dos anos 70 e início dos 80. Era então um aguerrido estudante secundarista.
Não pretendo escrever agora sobre toda sua trajetória de vida, considerando que esse é um trabalho que pode ser feito depois, quando as emoções amainadas nos permitirão valorar corretamente cada momento do seu percurso de lutas.
No momento, quero somente externar a dor por perder um dos meus melhores amigos, com quem conversava por telefone quase que diariamente.
Amizade alimentada pelo convívio político. Mesmo quando tínhamos visões discordantes sobre os caminhos partidários, sobreviviam os laços firmados pelas mesmas convicções sobre as questões estratégicas.
Sempre bem informado — era um assíduo leitor de jornais — Estevão unia uma sólida base teórica ao chamado espírito prático, o que permitia a sua desenvoltura nas diversas tarefas assumidas.
Foi dirigente partidário e de instituições públicas, sempre conseguindo manter o equilíbrio e a autoridade, mesmo quando submetido às perigosas armadilhas da política.
Entretanto, destacava-se mesmo por seu espírito de solidariedade, que começava em casa, com sua família, e se estendia aos amigos, que não eram poucos.
Sempre conciliador e bem-humorado, conseguia ser o polo aglutinador dos meios sociais que frequentava.
Por querer guardar essa imagem comigo, saí muito triste da última visita que fiz a ele na UTI Neurológica do Hospital Arthur Ramos, no sábado (26 de maio). Avisado pela Betânia Pereira, sua companheira, fui lá sabendo que ele não demoraria a partir.
Foi uma espécie de despedida, já que viajaria dois dias depois e que provavelmente não voltaria a vê-lo, como de fato aconteceu.
A informação de que ele tinha falecido me chegou na Argentina via WatsApp, pela Mônica Ferrari, às 22h29 da terça-feira. Uma pancada.
Acompanhei, no dia seguinte nos diversos grupos da rede social, os comentários das pessoas mais próximas. Fiquei comovido ao ler os depoimentos e constatar o quanto ele era querido e respeitado.
Cheguei somente ontem de uma viagem cansativa e hoje resolvi escrever esse texto. Para ilustrá-lo, fui procurar entre as fotos que mantenho em meus arquivos uma que contasse melhor quem foi o Estevão.
Vi algumas que poderiam expor sua combatividade e liderança política, outras em momento de descontração com os amigos. Preferi publicar a da turma do curso de formação política organizado pelo PCdoB em 1987, São Paulo. Diz mais sobre como se formou, recentemente, um dos principais quadros políticos da esquerda alagoana.
Estevão se foi, mas de vez em quando me pego pensando em ligar para ele para trocarmos ideias sobre a política e a vida.
Estevão sempre e presente!
Obrigada, Ticianeli! Em nome de nossa Família. Estevão ( meu Irmão!) “Sempre e Presente”!