Sobre praças, jardins e afins

Edberto Ticianeli – jornalista

A Prefeitura da Capital inaugurou ontem a reforma da Praça Sinimbu, com destaque para a merecida homenagem ao poeta Jorge de Lima, que está de pé na praça que tem o seu nome.

Isso mesmo: aquela é a Praça Jorge de Lima e foi assim denominada por Sandoval Caju quando dividiu a antiga Praça Sinimbu em duas quadras.

Entretanto, o que chamou mesmo a atenção foi a instalação de um parque infantil de madeira no local.

Mesmo respeitando os urbanistas que projetaram a reforma com este equipamento, devo externar que me causou estranhamento. Não por ser de madeira, sinalizando vida curta.

Assim reajo por considerar que as praças cumprem cada vez menos o antigo papel de área de passeio dos moradores da vizinhança. Até mesmo porque algumas delas perderam o uso residencial nos seus entornos.

No início do século XX, era comum ver casais e filhos, muito bem vestidos, circularem pelas principais praças da cidade.

Nos anos 60 e 70, somente a Praça Deodoro recebia esses passeantes aos domingos, após as missas, quando praticamente todos iam tomar um sorvete na Gut-Gut.

As festas natalinas na Praça do Pirulito e Praça da Faculdade foram os últimos eventos com a presença de casais e filhos a circularem-na por diversas vezes. Não esquecendo da turma da paquera.

Isso não existe mais. Mudanças urbanas e o fenômeno da televisão alteraram esse hábito.

Exemplo de mudança urbana foi o fim do uso residencial nas proximidades das cinco principais praças da cidade (D. Pedro II, Deodoro, Sinimbu, Martírios e Centenário)

Da Praça Sinimbu, o núcleo residencial mais próximo é o que se situa no entorno da Rua França Morel, no Poço. Além dele somente os edifícios São Carlos, Núbia e Tatiana na Av. da Paz.

Não consigo imaginar que alguma das poucas famílias que ainda habitam o Centro de Maceió desloque-se com seus filhos para o parque infantil da Sinimbu.

Poderia se esperar também que a histórica praça recebesse famílias de algum dos bairros mais distantes, que chegariam até ela utilizando meios de transportes.

Não tenho esperança de que isso venha a acontecer.

Elas vão para os shoppings, com ar-condicionado, segurança, sanitários, praça de alimentação e pontos de ônibus a poucos metros.

Alguém poderia perguntar: — Então para que servem as praças?

Excluindo a possibilidade de serem terrenos baldios (a maior parte assim está), respondo que basta olhar para as que recebem público para ver a razão do afluxo a elas.

A Praça do Skate na Ponta Verde, por exemplo, recebe muita gente por se permitir nela a presença, por algumas horas, de quiosques que comercializam lanches e bebidas sob fiscalização dos vizinhos e da Prefeitura.

Já se tentou dar uso diferente para a Praça da Faculdade, no Prado, mas lá também a única coisa que funciona é uma praça de alimentação.

Praça Sinimbu em 1911 Foto Luiz Lavenère

Como se percebe, a cidade está “falando” alto e em bom tom que quer praças para sua população se divertir, desde que se entenda o que é diversão atualmente.

Vivemos a época dos lanches e bebidas em vias públicas. No mundo inteiro estamos na era dos Food Trucks.

Mesmo nas belas praias da Pajuçara e Ponta Verde, onde não faltam bares e restaurantes, há lugar para a “Feira do Acarajé” na Praça Gogó da Ema.

A Praça do Centenário, sem grandes alterações, pode receber nas proximidades de onde hoje existem duas bancas de revista, quiosques temporários (móveis).

Se a isso se acoplar um projeto que promova apresentações culturais, teremos a presença do moradores da parte alta da cidade de volta à antiga Praça Jonas Montenegro, além de movimentar a cadeia produtiva da cultura alagoana.

Por que não fazer o mesmo com a Praça Osório Calheiros Gato na Pitanguinha, preparando-a para receber a Seresta famosa daquele bairro e outras atrações artísticas?

A mesma coisa pode se repetir pelas dezenas de praças da cidade, desde que se garanta a estrutura necessária e haja investimento público para se ter conforto e segurança nestes locais. Pode-se ainda cobrar dos comerciantes que ajudem a manter as praças que eles utilizam.

Outra coisa: não tenho nada contra os jardins em praças, mas é melhor não gastar com eles quando já se sabe que precisam de cuidados diários e que a Prefeitura não tem servidores contratados o suficiente para manter todos esses equipamentos.

Resultado: um mês depois da inauguração só estão vivos os mandacarus.

Percorram as praças de Maceió e constarão que a maioria delas serviria perfeitamente como cenário para o filme “Vidas Secas”.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Um comentário em “Sobre praças, jardins e afins

  • 18 de dezembro de 2020 em 12:04
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    Excelente reportagem, principalmente pela análise sóbria sobre o uso delas, a exemplo da praça Sinimbu. Mas vale lembrar das inúmeras praças que ficaram inacabadas em Maceió, as do Salvador Lyra foram “demolidas” desde o final do primeiro mandato com fins eleitoreiros e continuaram e continuam da mesma maneira, sem uso. Apesar disso alguns moradores fazem de maneira criativa, usando materiais recicláveis para dar um “ar” de praça em períodos natalinos.

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