Bandeira preta amor
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Então assim: quase 500 mil famílias enlutadas no infectado país em que vivemos e os “estrategistas” da política profissional brasileira convocam manifestações de militâncias partidárias para travar uma guerra campal e medieval entre bandeiras vermelhas e verde e amarelas.
Quem não tem nada a ver com isso e nada mais do que trabalhar estava fazendo leva um tiro no olho e fica parcialmente cego. Então assim: falta respeito aos mortos e às suas famílias. 500 mil mortos significarão pelo menos um universo de 5 milhões de brasileiros diretamente afetados pela besta viral do covid 19; venha lá de onde quer que venha essa besta do apocalipse com suas sequelas cerebrais, emocionais e morais.
Então assim: respeitem os mortos do Brasil. Levantem suas bandeiras pretas na multidão. Levantem suas bandeiras brancas. O branco é a soma de todas as cores. A soma de todas as almas, penadas ou não.
Gritem. Aquele grito ancestral parado no ar. No teatro. Gritem nos hospitais, nas ambulâncias, nas enfermarias, no vão das escadas de serviço, nas ruas; gritem o grito da dor e da perda. A perda do afeto, da visão do outro, em carne e osso, agora fantasma e lembrança. Noturnos. Toquem noturnos em seus pianos ou assobiem. Clarins na madrugada.
Nossos campos estão semeados pela morte. A fome campeia. Não façam festas embandeiradas. Se bandeiras forem necessárias, levantem bandeiras negras como a noite sem estrelas e brancas como a esperança da paz e da vida. A primavera há de chegar e as flores, com certeza, vão brotar no paraíso renascido do amor pelo outro e por todos. Não escrevam “facismo” em suas faixas. Escrevam Fascismo. Amem. Amém.