Globo muda postura e faz cobertura das manifestações
Edberto Ticianeli – Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Tudo indica que a Globo vai para a rua contra Bolsonaro, avalio a partir da mudança de postura apresentada pela empresa dos Marinhos neste sábado (19).
Há um mês, quando manifestantes foram às ruas em várias cidades do país, a Globo fez de conta que não viu e mal citou esses eventos em seus noticiários.
O que pode ter levado a vênus platinada (essa é antiga) a alterar seu posicionamento e passar a divulgar “os milhares de manifestantes” nos protestos de rua contra o genocídio liderado pelo presidente Bolsonaro?
O motivo seriam as medidas sanitárias adotadas nesses atos? Ou porque evitava-se aglomeração e eram pacíficos?
Em editorial, a empresa tentou estabelecer o motivo:
“Tudo tem vários ângulos e todos devem ser acolhidos, mas há exceções. Quando estão em perigo coisas tão importantes como o direito a saúde, por exemplo, ou o direito de viver numa democracia. Em casos assim, não há dois lados. E esse é o norte que o jornalismo da Globo continuará a seguir”.
Desculpem-me meus caros Bonner e Renata Vasconcellos, mas há muito tempo que a vida e a democracia vêm sendo pisoteadas pelo governo Bolsonaro. Fica evidente que a mudança de “angulação” deve ter outra origem.
Vou arriscar identificá-la.
Dois fatos relevantes para a Globo aconteceram entre os protestos de 29 de maio e os do último sábado (19).
O primeiro deles foi a provocação que o Mussolini brasileiro fez aos Marinhos quando, no domingo (13), divulgou foto em que aparece apontando para a logomarca do SBT no canto da tela de uma TV durante uma transmissão do jogo do Brasil na Copa América.
O outro, muito mais importante que essa provocação, foi o anúncio do apresentador Luciano Huck da sua desistência em disputar a presidência da República em 2022.
Vou expor conjecturas:
Se a Globo apostava mesmo nessa candidatura, obviamente que não iria se associar a movimentos que poderiam precipitar o afastamento imediato do Nero da Cloroquina. Optaria por cozinhá-lo em fogo brando até 2022.
Poderia manter essa mesma tática eleitoral se avaliasse a possibilidade do surgimento de outra candidatura viável nessa mesma terceira via ocupada pelo marido da Angélica.
Sem a força do Huck e sem candidatura capaz de substituí-lo, a Globo pode estar avaliando que não tem mais sentido esperar pelas eleições, quando Lula será o candidato com amplas chances de vitória.
Vai investir numa solução mais rápida, que afaste Bolsonaro do poder e, ao mesmo tempo, seja capaz de derrotar a candidatura Lula em 2022.
Bonner e Renata Vasconcellos não foram os únicos a apostar nas ruas. Luciano Huck, agora como ex-quase-candidato, também reproduziu a “angulação” da pauta dos Marinhos:
“Gosto das ruas e respeito as mensagens que delas emanam. Hoje [19] o recado de mudança foi claro, forte e plural, unindo pessoas com ideias diferentes e uma causa comum. E só não foi maior porque o respeito à vida limita a mobilização quando ainda 2 mil morrem por dia de Covid19″.
Assinou com a hashtag “#euapoio“.
Como a Globo não mexe no leme da política sem ter conversado com interlocutores privilegiados, é provável que nos próximos dias outros artistas cantem a mesma toada.