Jornal Movimento em Alagoas: uma história
Edberto Ticianeli – Jornalista
Não recordo bem a data, mas o ano era 1977. Aldo Rebelo me avisa que teríamos uma reunião com um pessoal de São Paulo para discutirmos o apoio ao jornal Movimento. Lembro que conversamos com o Tonico Ferreira e acertamos tudo. Formamos um núcleo de apoio e saímos a divulgar o jornal.
Nas primeiras semanas fazíamos assinaturas e os jornais eram enviados de São Paulo pelo Correio. Não funcionava direito. A solução foi o envio de um pacote de jornais por avião. Com as vendas e assinaturas ampliadas – chegamos a receber 500 jornais por semana – alugamos uma salinha na Av. Moreira Lima, vizinha à Eletrodisco.
Era para lá que levávamos o pacote de jornais todos os domingos à noite, após recebê-lo na porta da agência da Transbrasil, que ficava no inicio da Rua da Alegria próximo ao Quartel Geral da PM. A kombi da empresa trazia todo o material do aeroporto para a agência. Ficávamos aguardando horas e horas para não perdermos a chegada dos pacotes.
Em setembro de 1977, a edição 116, que noticiava a decisão do MDB de cobrar a Constituinte, foi apreendida no final da tarde em São Paulo. Por sorte, boa parte dos jornais já tinha sido despachada para os estados.
A Polícia Federal teve que se desdobrar para as apreensões quando chegassem aos destinos, nos aeroportos.
Fomos avisados do que estava acontecendo e analisamos as chances de recebermos o jornal censurado. Eram remotas. Avaliamos que eles estariam no aeroporto para fazer a apreensão.
De qualquer forma, montamos um plano e resolvemos arriscar. No domingo, ainda no final da tarde, já estávamos no aeroporto. Aguardamos o vôo da Transbrasil que sempre chegava em torno das 19h. A Polícia Federal que atuava no aeroporto já estava atenta e também esperando os jornais.
Pelo conhecimento que já tínhamos com o motorista da kombi, fizemos contato com ele e dissemos que estávamos no aeroporto para pegar os jornais lá, já que desejávamos começar a distribuição mais cedo. Pedimos para entrar com ele e recolhermos os jornais assim que saísse do avião. Ele concordou e assim procedemos.
Com o pacote nas mãos, saímos por um portão lateral e arrancamos com o velho fusca, o “Fogão a Gás”. Não acreditávamos, mas tínhamos conseguido driblar a PF.
Distribuir o jornal foi outra aventura. Poucos tiveram acesso ao número 116. A Banca do Gesivam, tradicional distribuidora do jornal, não recebeu nada. A polícia ainda andou nos seguindo um tempo, mas depois desistiu.
Conto essa história para lembrar da importância desse jornal na luta contra a Ditadura Militar. A sua saga contra a censura está contada no livro “Jornal Movimento, uma reportagem”, do Carlos Azevedo. Ele está disponível para download AQUI.