Dois anos depois
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Dois anos depois chegou o momento de fazer um balanço e recontagem dos achados e perdidos nos pedaços de um país triturado na máquina de moer carne humana, com o seu espírito antes alegre, esperançoso e jovial escorrendo pelo ralo da destruição ampla e irrestrita.
Depois das botas e do tabique de um general dando adeus à ditadura militar, ensandecido por um “buzinaço” e batendo, com ódio, nos para-brisas e capôs dos automóveis na Esplanada dos Ministérios, finalmente saímos de um regime ditatorial e entramos em um processo que se pretendia democrático e civilizado.
Em 31 anos tivemos um pouco de tudo no cardápio eleitoral. O primeiro prato do dia no nosso fogão democrático foram os marajás da república, mais resistentes do que o aço e o alumínio. Sobreviveram.
A segunda tentativa de salvação nacional foi cozinhada em fogo lento por 14 anos.
Era para ser uma sopa dos pobres mas terminou sendo um spaghetti com caviar e salmão, marinados no creme de leite fresco e conhaque VSOP, sempre no mesmo restaurante dos bacanas de Brasília, com vinhos de safra, acima dos dez mil reais a garrafa.
Tempos do Zé e do Kakay.
Agora, finalmente, apareceu um médico para dirigir um Ministério da Saúde, saqueado em plena pandemia. Um médico que pretende ser político, gosta de “Lives”, e diz sempre “Sim Senhor”, ao seu chefe, não importa o disparate.
Símbolo. Símbolo mesmo da Nova República e da Nova Política é um sujeito engraçado e barbado, que se chama Marcony.
Marconny de Farias, um paladino anticorrupção, mais rigoroso do que o Sérgio Moro, com uma grande vantagem para quem necessitar dos seus serviços: segundo ele, nasceu em Brasília e, por isso, conhece a “política de Brasília”.
Vende o seu conhecimento a preço de Espetinhos de Gato.
Suas análises técnico-política, garante o mequetrefe, podem salvar governos e vacinar multidões.
Já é o mais renomado consultor da política nacional. Aceita convites para churrascos de adultos e festas de adolescentes. Uma fera política esse Marconny. Recomendo.