Luciano Hang revela por que temia o bloqueio total durante a pandemia

Edberto Ticianeli

Como era de se esperar, Luciano Hang compareceu à sessão da CPI disposto a ridicularizar a comissão do Senado que investiga as ações promovidas para dificultar, principalmente, a adoção da vacina como prevenção contra a Covid-19.

Querendo exibir autoconfiança, a ponto de dizer que se sentia à vontade naquele ambiente, não percebeu que estava sendo arrogante e terminou por cair em algumas armadilhas.

Numa delas, quando negava mentirosamente a realização de operações com o BNDES, foi perguntado quanto faturava e esnobou afirmando que suas empresas arrecadam R$ 30 milhões por dia.

Imediatamente o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), lhe disse que tinha recebido do BNDES a informação confirmando que ele tinha utilizado R$ 27 milhões daquela instituição, sendo “subsidiado com o dinheiro do povo brasileiro”.

Uma rápida pesquisa na internet vai revelar que Luciano Hang é um experiente “homem de negócios”, detentor de uma fortuna avaliada em US$ 2,7 bilhões (mais de R$ 14 bilhões), resultado do faturamento de 163 lojas espalhadas em 18 estados, além da participação em uma construtora instalada no Balneário Camboriú, em Santa Catarina.

Calejado no trato com as autoridades, já foi condenado por sonegação fiscal no valor de R$ 10,4 milhões entre 1992 e 1999, mas conseguiu encerrar o caso após um acordo judicial. Sua dívida de impostos vai ser paga nos próximos 90 anos, acrescida de juros insignificantes.

Conhecendo-se essa trajetória “vitoriosa” e sabendo-se que fatura R$ 30 milhões por dia, fica muito claro a razão do seu envolvimento na defesa dos tratamentos ineficazes e da “imunidade de rebanho”. Tudo para evitar o bloqueio total ou mesmo as medidas de distanciamento social.

Ele fez contas e concluiu que dez dias de quarentena comunitária representam R$ 300 milhões a menos nos cofres das suas empresas.

Eis a razão dos seus “investimentos” no chamado “gabinete paralelo” e nas campanhas de disseminação de fake news sobre o tratamento precoce.

Mesmo assim, entre 2020 e 2021 viu sua fortuna diminuir em R$ 5 bilhões, segundo a Revista Forbes.

Queria evitar isso a todo custo. Fez seus cálculos desumanos e concluiu que valia a pena gastar R$ 1 milhão por dia para não perder bilhões caso fossem adotadas as medidas sanitárias mais indicadas pela ciência.

O cúmulo dessa desumanidade foi o modo como tratou a sua mãe. Para não ser acusado de incoerente, entregou-a à Prevent Senior em nome da causa e quando ela faleceu, provavelmente por falta do tratamento adequado, gravou mensagem para as redes sociais mentindo descaradamente ao lamentar que D. Regina tinha morrido por não ter realizado o tratamento precoce.

É assustador saber que em pleno século XXI se permitiu a um cidadão como esse utilizar do seu poder econômico para disseminar inverdades sobre como enfrentar a pandemia, aumentado consideravelmente o número de vítimas fatais.

Durante seu teatral depoimento à CPI, Luciano Hang tentou justificar seus ataques aos membros da comissão como sendo algo engraçado e apelou aos brasileiros para que tivessem mais senso de humor.

Confesso que foram poucos os momentos que usei meu senso de humor nesse período de milhares de mortes, algumas delas de pessoas muito próximas e queridas. Mas desconfio que o exercitarei no futuro, quando souber que a justiça foi feita e que alguns “Lucianos Hangs” da vida foram punidos exemplarmente.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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