O Sentimento
Miguel Gustavo de Paiva Torres
O sentimento da morte talvez seja o mais real e profundo sentimento da vida. Esperado ou inesperado, sempre incompreensível, nos limites dos sentimentos.
Mais do que o medo, sobrevêm a esperança. Algo há de ter. Alguma coisa deve acontecer. A esperança exala a vida, no último suspiro.
Os sentimentos de Mozart compondo o seu Réquiem e enfrentando com harmonia e melodia a doença e o fantasma.
O fantasma da música pairando na eternidade do tempo, fora da carne. Restam os cabelos, lembranças do corpo que foi e da imagem que fica gravada na memória universal.
A música sacra atravessa os muros das catedrais, sai pelos campanários o coro de vozes, sublimes ondas de energia pura revirando constelações de galáxias, na matéria escura e fria, longe do sol; pálidos sóis que morreram ao longo da viagem no gelo e renasceram no fogo da renovação.
Crer ou não crer não é a questão. A questão é o sentimento da vida e o sentimento da morte, no dia do nascimento, no dia da morte. Percorrido o caminho que cabe a cada um, a cada coisa, real ou irreal.