O mundo é uma escola — o que aprendi em viagens

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Foi uma visita protocolar que se transformou em uma longa troca de impressões sobre a situação mundial. Como encarregado de negócios da Embaixada do Brasil no Kuait acompanhei o senador Cristovam Buarque em sua visita ao Sheik Nasser, tio do Emir, na época, 2014, o homem mais rico e poderoso do Estado do Kuait.

Nasser havia visitado o Brasil e chegou a ir à Amazônia atendendo a uma sugestão do então presidente Lula, no encontro que tiveram no Palácio do Planalto.

Deu início à conversa relembrando essa viagem ao Brasil e sua aventura amazônica e logo em seguida levantou voo, fazendo um tour completo pelo oriente médio e resto do mundo.

O nível e amplitude de informações que detinha impressionava. Disse: estamos em um momento novo nas relações internacionais. A Coréia do Norte já conseguiu finalizar, com sucesso, míssil balístico intercontinental capaz de atingir o território dos Estados Unidos, destruir Nova Iorque em um só impacto. Isso muda tudo.

Até então o exótico líder norte-coreano, Kim Jong Un, era motivo de piadas e zombaria no Ocidente. Essa informação chocava. Dava medo. Uma arma dessa ao alcance das mãos de um jovem e bizarro ditador, capaz de explodir familiares e inimigos com tiros de canhão.

Tive o privilégio de acompanhar o senador Cristovam Buarque em todos os seus encontros e visitas no Kuait: parlamento, universidades, mesquitas, museus e encontros oficiais.

Perguntei ao senador se ele gostaria de conhecer o mercado popular da cidade, onde, na minha opinião, serviam a melhor comida árabe da cidade. Cristovam Buarque não titubeou: — Era isso mesmo o que eu queria!

Dois nordestinos almoçando em um cenário muito parecido ao dos nossos mercados populares: poderia ser a Feira do Guará, o Mercado de São Cristovão, a antiga Feira do Passarinho, em Maceió, ou o Mercado de São José, em Recife.

Ali, almoçando ao nosso redor estava o povão que trabalhava e vivia no Kuait.

Percebi a alegria do senador em compartilhar aquele momento de realidade da cidade e do país. Ao final do almoço encontramos uma casa de chá em espaço aberto, onde os clientes sentavam-se, lado a lado, em cadeirões parecidos com os dos nossos engraxates. Conversamos sobre suas viagens e sobre o Brasil.

Agora tenho em mãos a síntese do Brasil e do mundo escrita por ele: O Mundo é uma Escola — o que aprendi em viagens. É um olhar do político e do homem nas semelhanças e dessemelhanças da humanidade. Uma viagem de uma vida em seu tempo planetário, entre a riqueza e a pobreza, a ignorância e a educação, criação e destruição, meio ambiente e sustentabilidade, sofrimento e alegria, fartura e fome, igualdade e desigualdade, arte da política e arte de viver.

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