A era da ignorância
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Diferente da inocência, a ignorância é a principal arma dos sistemas políticos que pretendem manipular e dominar as massas, rebanhos, manadas ou bandos de humanos organizados em grupos étnicos, no início da formação social, e nacionais, até os dias atuais.
Trovões, raios, secas, dilúvios, a natureza serviu como meio político para amedrontar, organizar e dirigir os agrupamentos humanos, na transição entre os caçadores coletores nômades e as populações de agricultores assentados, obrigados a conviver uns com os outros, de forma permanente e, no início, coletiva e solidária.
Tocados pelo lado sombrio da mente humana, — o lado do mal, tão misterioso quanto o lado do bem —, alguns despertaram para a possibilidade de liderar, chefiar e mandar em seus grupos, convencendo-os que tinham poderes superiores e habilidades extraordinárias para afastar a fome, inimigos, deuses e monstros.
Tudo isso inventado e transmitido, de geração em geração, como verdades absolutas pelos primeiros espertalhões do manejo político das manadas humanas reunidas em comunidades.
Assim surgiram os mitos e assim caminhou a humanidade até os dias de hoje, abrindo um fosso insuperável entre controladores e controlados.
No século XVII, na velha Inglaterra, depois de muito sangue derramado entre famílias e estandartes rivais, abriram a possibilidade de uma representação popular em um parlamento apto a discutir e legitimar os anseios dos servos, artesãos e comerciantes.
A revolução norte-americana veio no século seguinte e, em seguida, a revolução francesa. Surgia uma tentativa de restauração dos modelos mais avançados de organização política e social vividos na antiguidade. Roma e Grécia.
Surgiram então as Repúblicas e Democracias. Limitadas às elites educadas e patrimonialistas da época. Pobres e ignorantes ficavam de fora. Escravos, brancos ou negros, também. Os educados, em sua maioria, eram alforriados e incorporados aos sistemas “democráticos” de Roma e Atenas.
Todos os homens nascem iguais e têm os seus direitos humanos e civis assegurados, diziam os revolucionários norte-americanos. Não se aplicava, porém aos negros escravos e mulheres.
Liberdade, igualdade e fraternidade foi o lema de Napoleão e das guerras expansionistas francesas; a chamada “missão civilizadora” do iluminismo filosófico, intelectual e artístico da idade da razão ocidental.
Não se aplicava aos bárbaros subjugados nas lutas coloniais.
E assim, nessa toada, chegamos aos dias atuais, depois de passarmos por experiências singulares para a construção de modernos modelos de imposição à força de igualdade e fraternidade solidária por meio do “homem novo”; mais velho do que Matusalém.
Redes sociais. Informação acima de tudo. Sem educação. Educação, ciência, cultura e artes são os novos demônios sociais do “novo mundo”. Informação para todos, falsas ou verdadeiras não importa.
Vale tudo para convencer, controlar e dominar as manadas desenfreadas, atiradas ao abismo da fome e da miséria. O que importa é divertir, distrair e, se possível, armar, com artimanhas verbais e armas de verdade, as hordas sedentas e famintas que atravessam o deserto em busca da terra prometida, nunca vista.