O neoliberalismo está em crise

Gilberto Coutinho

A globalização, que é a política externa do neoliberalismo, também está em crise. A guerra dos EUA contra a Rússia na Ucrânia é expressão disso! É uma guerra militar e, principalmente, uma guerra na economia Internacional.

No campo militar, os americanos esticaram tanto a corda que a única alternativa de vitória seria ir para uma guerra nuclear. Ou seja, uma vitória sem ninguém para comemorar. Por isso não fazem nada para mobilizar suas forças armadas e estão sem ter como impedir que o Putin faça a festa na Ucrânia.

O resultado ali será uma Rússia mais forte, com a incorporação de áreas portuárias, siderúrgicas, petrolíferas e de gás natural. Além da Crimeia e do Donbass, ainda não sabemos qual a porção de território ucraniano que será anexada à Federação Russa. Até a Polônia, que também acompanha de perto o conflito, já se anima em recolher o que sobrar do lado oeste do país.

Os EUA esticaram também demasiadamente a corda das sanções econômicas e estão vendo o dólar indo para o buraco. A dominação neoliberal estadunidense, que se utiliza do poder de troca internacional da moeda americana para impor sua hegemonia, já sofre com as turbulências da crise. A previsão é de recessão nos EUA. Os bancos centrais europeus, em especial o alemão, sofreram abalos nos últimos dias. É pelo dólar que os EUA controlam a economia mundial e pagam seu déficit público trilionário.

O conflito na Ucrânia, na verdade, é uma guerra contra a China, que se insere no mundo como capital como alternativa ao neoliberalismo. O padrão neoliberal de livre circulação do capital financeiro apresenta sinais de que não se sustenta mais.

É nesse contexto que o Brasil está inserido e com a possibilidade de, com um novo governo, construir um caminho alternativo de desenvolvimento. Somos uma economia poderosa (estamos entre as maiores do mundo) e podemos novamente sermos beneficiados por uma situação internacional favorável. Coloca-se no cenário a alternativa de romper com o atraso em que o neoliberalismo nos jogou nas últimas décadas, inclusive limitando as políticas dos governos progressistas.

Está em pauta a necessidade de um debate programático anti-neoliberal. Haverá resistência a este programa? Sim, haverá. Teremos turbulência política? Sim, teremos. Mas se frustrarmos o povo com uma adesão ao receituário neoliberal será muito pior.

A economia brasileira está melhor do que em 2002. As mudanças implementadas nos governos Lula e Dilma foram fortes a ponto de resistirem a seis anos de destruição com Temer e Bolsonaro. Temos 370 bilhões de dólares em reservas, a Petrobrás ainda está muito forte e é majoritariamente pública. Além do que o contraponto do péssimo governo Bolsonaro nos dará algum fôlego para realizarmos as medidas iniciais.

Será uma luta acirrada. Terá que contar com a mobilização popular nas ruas durante o governo. Só haverá mudança se for assim. A alternativa a isso seria um governo nacional-desenvolvimentista autoritário, mas Getúlio Vargas é coisa do passado, não está disponível e nem temos outra vez o seu momento histórico. Agora temos Lula com o neoliberalismo em crise.

O Brasil é um país gigante, com uma economia moderna e com fôlego para bancar nosso desenvolvimento. Nesse contexto, as alianças eleitorais e políticas permitirão um grau mais profundo e estável para as mudanças pretendidas.

A Frente Ampla se impõe, unindo a esquerda (PT, PSOL, Rede), o centro (PSB) e setores conservadores e liberais (Alckmin, Aloísio Nunes, Renan Calheiros e quem sabe até o MDB). Repito, o neoliberalismo está em grave crise! A alternativa do neoliberalismo no Brasil é o Fascismo de Bolsonaro e o Ultraliberalismo de Guedes.

A pauta moral não vai dominar as eleições, apesar de Bolsonaro tentar fazer isso acontecer novamente. O centro do debate será a pauta econômica. Lula não pode e não deixará a pauta moral prevalecer. Ele antecipou o debate do aborto para agora para não ter que fazê-lo mais adiante.

O centro do discurso de Lula na imprensa (onde permitem que ele fale) é sobre economia e ele sabe fazer um discurso de maneira popular e clara sobre os temas econômicos. A questão moral deverá ser tratada com habilidade, como já se tem feito ultimamente. A iniciativa do PT ao criar um grupo específico para dialogar com os evangélicos é um exemplo.

A crise conjuntural vai aumentar no Brasil no segundo semestre deste ano sob os impactos da alta do petróleo, da inflação e do desemprego. Isso vai afetar negativamente a campanha do Bolsonaro.

Vem aí uma recessão. A discussão principal vai ser “o pão nosso de cada dia“, ou seja, emprego, renda e políticas sociais. A candidatura de Lula é em si mesmo um programa, escrito por sua história e luta em defesa de melhores condições de vida para os brasileiros. Mas precisamos discutir o tema para constituirmos uma corrente de pensamento, prepararmos quadros, formarmos militantes, termos um discurso e assim enfrentarmos as disputas que virão.

Senão não agirmos sob essa orientação, vamos ficar discutindo se o Alckmin é chuchu ou outro legume. Opinião se forma no debate. O debate eleitoral, obviamente, não será somente econômico, mas a questão econômica será a principal.

Pode-se atuar também no debate moral e identitário, mas a economia será o tema predominante nas eleições. Isso somente não ocorreu em 2018 porque o Lula foi preso e Haddad não conseguiu se vincular a imagem de Lula plenamente. Lula simboliza a possibilidade de soluções progressistas para os problemas da nossa economia, daí sua força eleitoral e a rejeição a ele por parte do capital financeiro (empresas de mídia como a Globo aí incluídas).

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