Árbitro no campo não é professor de regras do futebol
Edberto Ticianeli
Vou narrar as cenas para avivar a memória:
Cena 1
O atacante prepara-se para cobrar o tiro de canto (escanteio) quando, repentinamente, o auxiliar (bandeirinha) toma sua frente impedindo a reposição da bola ao jogo.
Isso acontece porque o árbitro interrompeu a autorização que estava prestes a acontecer e se dirigiu à grande área para advertir os jogadores que estavam se agarrando que puniria o infrator, como manda a regra.
Cena 2
Bola na marca do pênalti, atacante posicionado para a cobrança e o goleiro na linha do gol. Falta somente o árbitro trilar o apito, mas eis que ele resolve dizer ao goleiro que ele terá que cumprir a regra, depois se dirige ao jogador encarregado da cobrança da penalidade para lhe dizer que ele também teria que cumprir a regra.
Antes de chegar até o local onde vai acompanhar o lance, percorre toda a linha da grande área e explica aos dois times que, segundo a regra, eles somente poderão avançar sobre a grande área após a bola em movimento.
Cena 3
Numa cobrança de falta, com a barreira posicionada e o atacante a três passos da bola, o árbitro se dirige até os jogadores do paredão humano e explica a regra que determina punição ao jogador que erguer o braço para impedir a trajetória da bola.
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Agora vamos para outras cenas:
Cena 1
O goleiro se prepara para repor a bola em jogo no famoso tiro de meta, que agora pode ser cobrado para outro jogador dentro da grande área. Surpreendentemente o árbitro não vai até os atletas para explicar a regra e suas punições.
Cena 2
O atleta prepara-se para arremessar a bola na lateral do campo e é desprezado pelo árbitro, que não vai até ele para adverti-lo sobre como segurar a bola de acordo com as normas. No máximo manda ele recuar dois metros dos oito que ele já avançou.
Cena 3
O goleiro chuta a bola em direção ao atacante posicionado no campo adversário, que se esforçará para disputar com o zagueiro a posse da pelota. No corpo a corpo, sobram cotoveladas e carrinhos destruidores da anatomia humana. Pasmem! Isso ocorre sem que o árbitro, antes do tiro de meta, procure os jogadores e explique a eles que MMA acontece num ringue.
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Brincadeiras e exageros à parte, pretendo mesmo é colocar foco sobre uma prática do jogo de futebol que não deveria mais existir.
Essa intervenção do árbitro para explicar regras só acontece no futebol e em lutas de Boxe ou Livre. No meu entender, não é esse o papel do famoso “juiz”. Ele está ali para assinalar as infrações e aplicar as punições estabelecidas pelas normas do esporte.
Todo jogador de futebol, ou de qualquer outro esporte, tem que saber as regras antes da competição começar. Se o árbitro quer atuar contribuindo para o bom andamento do jogo, pode, e deve, acalmar os agressivos e cobrar deles mais profissionalismo. Mas nunca perder tempo explicando regras.
Se essa prática fosse a correta, teria que ser adotada em todos os momentos da partida.
Alguém já viu árbitro de futebol de salão explicando regras? E de basquete, voleibol, 100 metros rasos, natação, maratona ou xadrez?
Errou, tem punição e pronto.
Se na cobrança do escanteio um jogador é derrubado ou puxado por outro, marca-se a infração da mesma forma que acontece após um jogador de beirada lançar a bola na área.
Se, no pênalti, o goleiro impede o gol por ter se adiantado antes da hora, manda-se voltar a cobrança e pune-se o infrator. O mesmo se houver invasão da área.
A falta foi cobrada e um dos jogadores da barreira desviou a bola com o braço. Sem problema: marca-se a penalidade. Ele não vai reclamar. Conhece essa regra desde criança.