Lula III: a disputa pelo futuro!

Sérgio Braga Vilas Boas

Naturalmente não vou me alongar em tecer louros à vitória de Lula: foi apoteótica e acima de tudo necessária, fundamental, crucial.

E, objetivamente, começo concordando em absoluto com Gilberto Maringoni quando diz: “Somos, enfim, uma sociedade em que o lumpesinato tem enorme peso em sua composição e em que o favor, o compadrio e o ódio são manifestações usuais nas relações humanas. Esse estilhaçamento comunitário, potencializado pelo desmonte do mundo do trabalho ao longo de quatro décadas de neoliberalismo nos torna sensíveis a um tipo de liderança salvacionista e inorgânica – uma espécie de neopopulismo –, capaz de direcionar vontades e de transformar a raiva social em força política. Esse é o resumo do resumo do caldo de cultura que possibilita a ascensão do bolsonarismo (cuja identidade correta é extrema direita fascista). E isso nós – alinhados a um pensamento democrático e progressista – ainda não conhecemos totalmente”.

O exército de Branca Leone, uma espécie de composto heterogêneo de gente às vezes ridícula, patética; ás vezes insana, que circula textos que mereceriam compor o “script” de qualquer peça humorística como verdade absoluta, que perdeu qualquer parâmetro de realidade, que, parafraseando José Simão, parece todas as manhãs, antes de sair de casa, pingam colírio alucinógeno, não deve ser confundida com a estrutura que existe por trás disso tudo. Sagaz, sorrateira, insidiosa que usa com eficaz inteligência o medo, o temor do futuro, a ignorância atávica, os equívocos e as contradições do próprio capitalismo que enfim defende em sua forma fascista, e a herança de estupidez que nos persegue há milênios, tendo nas redes sociais o ambiente perfeito, que elevou à categoria de sábio o “imbecil da aldeia” (termo cunhado por Umberto Eco). Que ninguém se iluda: há um futuro em disputa!

O Brasil, junto com a Indonésia e o Congo, possuem mais de 50% das florestas tropicais do mundo, ricas em tudo e principalmente em biodiversidade. Nós, Brasil, somos donos de algo em torno de 8 a 12% de toda a água potável do mundo, e da maior quantidade de terras agricultáveis do planeta. Temos disponíveis todos as matrizes energéticas disponíveis no planeta: hidráulica, solar, fóssil, vegetal e nuclear, sendo um dos poucos países do mundo que tem seu próprio método de beneficiamento do urânio, que devemos ao Almirante Othon, preso de forma infame pela excomungada operação Lava-Jato.

Não nos iludamos, há um futuro em disputa aqui e no resto mundo, e a extrema direita fascista está no jogo.  O chamado “bolsonarismo” talvez, em função de sua característica amorfa, ignara, se dissipe. Seu líder, Bolsonaro, pra mim soa àquilo que tinha para o momento. Seus trinta e quatro anos de imunidade encerrar-se-ão em 31 de dezembro de 2022. Seu destino é incerto, mas não o da extrema direita, que buscará alguém mais talhado e consistente. Já experimentou poder e possibilidades. Não pedirá arrego.

Lula venceu, nós vencemos. Foi duro, sofrimento não faltou. Hoje, após sete dias da vitória já podemos respirar oxigênio livre de veneno. Nossos corações se encontram calmos. Mas, não esqueçamos há um futuro em disputa! Nessa disputa, as organizações sociais terão de retomar sua capacidade de mobilização popular. Movimentos, sindicatos, partidos progressistas. Os partidos deverão renovar suas direções mal-acostumadas, por outras que indiquem e trabalhem pela ocupação das ruas e redes sociais; que arrebanhe os jovens e lhes apresente as possibilidades futuras. Os sindicatos deverão buscar do fundo do baú sua veia classista e ir às ruas defender a paz, o SUS, a habitação popular, a educação pública, políticas públicas inclusivas, para muito além de suas pautas corporativas.

Se perdemos a guerra pelo futuro, que mundo legaremos para os que virão?

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