A voz rouca das ruas
Edberto Ticianeli
Quem defende intervenção quer mesmo é que aconteça um golpe militar. Imagina em seu cérebro doentio que os golpistas prenderiam, torturariam e até matariam Lula e outras lideranças populares.
Não respeita a democracia e nem a Justiça. Para estes, não se teria sequer eleições. Alguns vão mais longe e se espelham na experiência ditatorial nazista e a homenageiam de braços estendidos, cuspindo na história e sobre a memória de milhões de mortos pelo holocausto. Fizeram o mesmo com as milhares de vítimas da Covid.
Tem expressiva limitação do senso crítico. Não percebe, por exemplo, que os militares não vão fazer intervenção alguma, por mais que se fique a cantar o hino nacional ou que se balance a bandeira nacional em frente a um quartel.
Vou mais além: também não entende que o líder máximo dele já o abandonou e está somente tentando se livrar de possíveis punições e garantindo um salário que o sustente a aos seus, incluindo os dispêndios com os vários e grandes imóveis de sua propriedade.
Ulysses Guimarães, uma das principais lideranças do processo de redemocratização do Brasil nos anos 70 e 80 do século passado, utilizou a expressão “a voz rouca das ruas” para se referir à vontade popular, aquela que não aparece nos discursos.
É essa voz que os poucos grupos golpistas tentam levantar a partir de atos em frente às unidades militares ou interditando rodovias. Erram por não considerarem que a maioria da população, incluindo aí a maior parte dos eleitores do PL, está surda para esses apelos. Preocupa-se mais com os anúncios do novo governo. Está mesmo e tocando a vida.
Não há voz rouca das ruas apoiando golpe algum. O que restou foi a rouquidão de uma minoria que insiste em não entender que o Brasil real não vai gastar eternamente suas energias cantando hinos e balançando bandeiras, com exceção justificada para os torcedores da seleção brasileira durante a Copa do Mundo. Até lá, xarope e mel com limão para as cordas vocais afetadas pelo delírio.
Excelente.