O General da Banda

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Alô, Alô, Terezinha! Chegou o General da Banda. Todo mundo na porta do quartel. Vai sair o General da Banda. Tem quentinha, água mineral e guaraná. Sanduiche verde e amarelo, com queijo, manteiga e alface.

Toca a buzina, Josefina. Chegou a hora de gritar, bater e matar. Alô, Alô, Maracujina! Venha meu General. Trepe no mastro da bandeira e mostre quem é macho, macho e masculina, emasculada, imaculada, Santa Conceição da Barra dos Militares.

Vou pra cadeia, rodar no pau de arara, aproveitar para gritar: — Alô, Alô, Periquita! Estamos na porta do quartel. Tragam champanhe e caviar, afinal quem paga essa conta? — os grandes ladrões ou os pequenos ladrões. É a revolta dos bichos pequenos contra os bichos grandes.

Desta vez temos escorpiões e serpentes no time dos pequenos.

O problema central nessa revolução dos bichos, que faz coro nas portas dos quartéis, é o de sempre: a continuidade na mudança. Os que sempre roubaram pouco ou muito pouco não se conformam. Querem roubar mais, muito mais. E querem medalhas. Afinal roubam em nome da Pátria. Não querem mortadela com guaraná, querem champanhe e caviar.

Terminaram os dias de roubo na boca do caixa, porcaria de comissões em prefeituras e governos de estados falidos.

Precisam dos generais para garantir ao povo o que é do povo, dinheiro público.

Dizem eles: “Nós, que estamos nas portas dos quartéis somos o povo. O verdadeiro povo. O povo de Deus. Também queremos o bacalhau português malandrinho: bochechas, línguas e caras. Queremos comer até as espinhas para arrotar gostoso como vomitavam os romanos em suas bacanais.

É o carnaval dos generais.

“A nossa luta é pela Pátria. Avante liberais, republicanos, progressistas e generais da banda de cá. Não se escondam no breu dos quartéis.

Saiam, com saias ou calças, mas saiam. Não baixem as calças para o sistema dos velhos e grandes ladrões da Pátria. Nós também somos gente de Deus. Queremos mais, muito mais.

Somos o novo, novíssimo, incorruptíveis, puros e transparentes como as águas do Rio Jordão. Vamos purificar o Brasil com o sangue dos grandes larápios.

Sem sacrifícios não há salvação. Fiquem na estrada. Não deixem passar. Morra quem morrer, não importa. Queremos ganhar”.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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