O sol nas bancas de revistas

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Figurinhas, gibis, revistinhas, revistas, cruzadas, sexo, guerra, política, animais e jornais, muitos jornais. Meio-dia em Teresina e em Maceió e o sol batendo na primeira página do Última Hora.

Nosso maior prazer: a euforia de lamber o jornal saindo das impressoras na madrugada. Os primeiros a saber. Os primeiros a escrever o dia a dia das cidades, dos países, das gentes, do Globo. Um Diário de Notícias. Uma Luta Democrática. O Dia. Os dias da imprensa.

Passava horas nas bancas de revistas. O mundo em páginas abertas, tomando sol, nas bancas de revistas. Denis, o Pimentinha. Kennedy e a máfia. Marilyn Monroe.

Século XX. Depois da guerra tudo se acalmou na superfície. Tempo de rádio, televisão, ciências, tecnologias, rock and roll, alegria, alegria. Minissaias e o sol nas bancas de revistas. Que preguiça!!! London. London.

Depois, venceu o famoso complexo industrial militar que tanto preocupou e incomodou o general Eisenhower. Sim, existem generais que se preocupam com paz e com o bem-estar dos seres humanos. Apesar de serem homens da guerra.

E chegaram os sucessores dos hippies da paz, amor, música e cannabis. Os yuppies de Wall Street: relógios de ouro, cocaína, gel e money. Only money, muito money e muitas guerras para fazer a roda do dinheiro girar por todo lado. De Serra Leoa a Bangladesh, tudo gira na roda de Wall Street.

Mudamos de século e de paradigma. Foi um salto triplo mortal de Steve Jobbs e Bill Gates para Elon Musk. Dos inovadores aos predadores. Salto sem rede de sustentação.

Acabaram em um duplo salto com as bancas de revistas, jornais e com os raios do sol da madrugada nas redações. Saímos direto para o Quinto Poder ainda no velório do Quarto Poder.

É o que temos de novo sob o sol do meio-dia. As redes sociais no escurinho do seu cérebro. Finalmente a liberdade. Podemos fazer da mentira nossa verdade. Os fatos não mais importam. Os fatos são versões. Narrativas. Aqui no escurinho vou dar um nó na sua cabeça. Otárias e otários.

A arte da diplomacia remonta ao início da história comunitária dos humanos. Arte porque como ofício o trabalho sempre foi o de dissimular, negociar, inventar, informar, contrainformar, mentir e garantir o melhor para a sua comunidade, depois, cidades, depois países.

O rei, o general, ou outro qualquer que achasse que manipulava, mandava e controlava o seu pedaço, nunca alcançaram o poder real em suas cortes. Luís XIV acreditava piamente que ele próprio era o Estado. Não era. O Estado era e sempre será a arte de se armar, mentir ao povo, dissimular, negociar, atacar inimigos, trair e recompensar aliados.

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