Macaquitos, bananas e bancos

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Se você quer impressionar algum estudante ou noviço da diplomacia a primeira frase do seu discurso deve ser “nossa missão deve ser a defesa do interesse nacional”. Impressiona. Cala fundo na alma e fica impresso em seu cérebro até a morte. – Trabalhamos em defesa do interesse nacional.

Ora, pois, foi justamente em um fórum sobre política externa e interesse nacional, realizado no Instituto Rio Branco, ainda no governo militar, na década de 80 do século passado, que, jovem diplomata, tive a ousadia de fazer uma pergunta considerada impertinente pelos organizadores do fórum. Mais adiante pagaria preço alto por abrir a boca e falar quando era só para escutar e ponto.

Ingenuamente perguntei: — Como se define o interesse nacional e quem o define? Pergunta boba. Aparentemente.

O palestrante da hora não deixou passar e retrucou na hora: quem você acha que define o interesse nacional do Brasil? — Não sei, respondi. E falei em seguida: — Acredito que deveria ser o conjunto da sociedade brasileira. Penso que deveria ser o resultado de ampla consulta com todos os setores representativos da sociedade brasileira.

Mudaram de assunto e, mais tarde, soube que minha pergunta havia sido considerada impertinente e arrogante pela diretora do Instituto Rio Branco. — Quem é esse menino? —, teria perguntado.

Pois agora, aos 70 anos, precocemente aposentado por manobras administrativas, continuo impertinentemente a perguntar como se fora o mesmo menino bobo: — quem define o nosso interesse nacional?

O capital é claro, energúmeno. Como vamos crescer e criar empregos sem priorizar nossas exportações de manufaturados com valor agregado, serviços e engenharia nacional? É o mantra que escutamos há décadas. Desde o regime militar até os dias de hoje. Afinal o destino do Brasil, depois do projeto das substituições de importações pelo qual tanto lutou Celso Furtado e uma geração de economistas nacionalistas, é o de ser uma potência total: agrícola, industrial, científica e tecnológica. Está no nosso DNA, é o discurso que teve início no pós-guerra e nunca chegou às vias de fato.

Não chegou às vias de fato porque projetos partidários de poder e vaidades pessoais boicotaram, ao longo de décadas, o tal do interesse nacional definido por uma maioria absoluta dos que detém interesse real nesse interesse subjetivo, ou seja, nós todos.

Bancos privados existem para movimentar interesses setoriais no mercado de capitais; sejam eles agrícolas, industriais, científicos e tecnológicos. Bancos públicos existem para operar de maneira subsidiada, até o limite da sua perenidade, interesses da população brasileira, em todas as áreas, possibilitando a formação de capital para todos os que necessitam do apoio público. É a diferença entre crescimento com empobrecimento generalizado e desenvolvimento com inclusão social efetiva: educação, saúde, empreendimentos fabris, agrícolas e comerciais, cooperativas, pesquisa científica, desenvolvimento de novas tecnologias, farmácia com medicamentos acessíveis a todos, defesa nacional estruturada e moderna e outros temas do interesse nacional de todos nós, cidadãos brasileiros, no masculino, no feminino ou na forma que bem lhe aprouver.

Falta humildade. Errar é humano. Repetir erros é, no mínimo, arriscado. O dinheiro é nosso, e faz muita falta. Por falar nisso, quando finalmente vamos ter dinheiro, engenharia e empresas que construam estradas sem buracos e sem lamaçais; ferrovias que entrem nos trilhos; e hidrovias que integrem primeiro o território nacional e, depois, se aventurem nas terras dos outros.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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