A meia verdade e a falsificação

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Existem, ao gosto do freguês, a verdade verdadeira, a meia verdade, a falsa verdade e, por fim, a falsificação dos fatos.

No governo José Sarney, o chanceler de direito e doce vida era o ex-governador de São Paulo, Abreu Sodré, mas o chanceler de fato e trabalho duro era o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima. Camisa dez do Itamaraty nos anos 80.

Foi o responsável pela primeira tentativa séria de reorganizar as carreiras do serviço exterior e os critérios de remoções e de promoções nas carreiras do serviço exterior, com olhos no presente de então e no futuro da diplomacia brasileira.

Foi uma esperança para os deserdados do poder político, sempre à sombra de senadores, deputados e altas autoridades da República.

Uma classificação dos postos diplomáticos em categorias A, B, C e D. Quem aceitasse servir em postos C e D teriam, obrigatoriamente, de serem removidos para postos A, pouquíssimos, ou B, mais numerosos O inverso também deveria ser verdadeiro.

No tocante às promoções, como nas Forças Armadas, os critérios deveriam passar pelo crivo das chefias do Itamaraty, em colegiado, afastando a nefasta tradição dos pistolões de fora da Casa.

Durou algum tempo. Era, na realidade, uma meia verdade. Com as sucessivas mudanças de governo os critérios esfarelaram-se.

Aqueles que se consideravam os “melhores”, muitos “gênios”, ou “especialistas” fizeram uma tremenda ofensiva política: “imagina, desperdiçar nosso talento e competência em postos C e D”, sussurravam nos corredores e comentavam em seus restritos convescotes sociais.

A desorganização, o inconformismo e a rebelião silenciosa impregnaram a atmosfera.

Começaram a aparecer no trabalho, em meados dos anos 90, os primeiros diplomatas e funcionários do serviço exterior com a estrela vermelha do PT na lapela; dessacralizando a “tradição” da carreira de estado.

Foi o início de um processo de ideologização da nossa pretensa carreira de estado. Uma falsificação histórica.

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