Os dez dias que nunca existiram
Edberto Ticianeli
Isso mesmo, temos dez dias na história que não existiram. Não há nada sobre eles, nenhum evento foi registrado nesses dias de outubro de 1582.
A situação inusitada surgiu com a adoção do calendário gregoriano, elaborado por astrônomos, a pedido do Papa Gregório XIII, para estabelecer o início do equinócio vernal (da primavera) no dia 21 de março.
Lembrando que equinócio é quando a luz do sol corta o equador celeste, determinando dia e noite com 12 horas cada. Isso ocorre em março e em setembro.
O calendário juliano, instituído pelo imperador romano Júlio César, tinha 365 dias e 6 horas. Passou-se então a se ter um ano com 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 47 segundos. Mesmo assim não se conseguiu domar o tempo e o mês de fevereiro ficou para ser utilizado em alguns ajustes.
A correção proposta por Gregório XIII estava relacionada com a Páscoa, que já acontecia, no primeiro domingo depois da lua cheia, após o início do equinócio vernal, por determinação do Primeiro Concílio de Niceia.
Para a igreja católica, o equinócio vernal acontece em 21 de março. Para os astrônomos, na maioria dos anos acontece no dia 20 de março.
Como a lua cheia resolveu não se enquadrar nos ditames do Papa, a data da Páscoa varia entre 22 de março e 25 de abril.
Foi assim que, após a última badalada do relógio à meia-noite da quinta-feira, 4 de outubro, teve início o dia 15 de outubro de 1582 na Espanha, parte da Itália, Portugal e Polônia. Um outubro de 21 dias. Sumiram com os dias entre 5 e 14 de outubro. Essa mudança não foi aceita imediatamente. Demorou três séculos para que as folhinhas fossem unificadas.