Carolina

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Na janela não viu o tempo passar. Voava por vários planetas, rostos, memórias, afetos e dores, profundas, viscerais.

Mas ainda era sempre a mesma praça. O mesmo jardim. Sissi, a imperatriz, que na verdade se chamava Romy Schneider e ajudava sua mãe a gerenciar o seu fabuloso restaurante em Colônia, na Alemanha, marcou o tempo das lindas mulheres em cinemascope e a cores.

E a beleza? — o que é? Maternal, filial, sexual, encantamento, bruxaria, ou o quê?

Íntimo, pessoal, individual, atração fatal?

Vá lá saber mano. Tá ligado? — Sofia Loren, idem, em preto e branco. Duas Mulheres. Vestidos rasgados.

Como não amar a poesia da vida no bico do beija-flor sugando o bico da mãe-flor. Vento e sol, chuva e mar. Constelações assustadoras de versos caindo em meteoros verdes e claros. A luz.

Uma sucedendo a outra, nascendo, vivendo, amando, sofrendo e morrendo. Tartarugas nas praias dos oceanos das meninas; sensíveis às criaturinhas para as quais só a jornada tem sentido. Faz sentido: sempre no retorno, o eterno retorno.

Não quero amar. Quero devorar, chupar o seu último suspiro com creme glacê. Para guardar o teu sabor. Você vai partir. Eu vou partir. A lenha ou a vapor tudo que vejo é a paisagem do mundo.

De que vale ganhar o mundo e perder a sua alma. Era a frase grafitada que estava no caminho da minha casa para o trabalho; na Ilha de Java. A estranha ilha de Java, com seus fantasmas perenes. Onde e porquê tudo isso caiu no mar, como estrela cadente em Riacho Doce.

O que começa termina. E o que termina recomeça. Cabala, círculo, tudo é sexo e morte. Tá ligada mana? São as formigas trabalhando. Árduo, no seu dia a dia, carregando alimentos para todos.

Musken Ambani, conhecido como o homem mais rico da Índia, ainda não era o homem mais rico de Mumbai e da Índia quando por lá passei um tempo.

Era apenas um homem que queria ser o homem mais rico e mais poderoso porque aparentemente sempre acreditou que é fácil — não ficar rico — mas ser o mais rico.

Basta saber como fazer a lista de convidados: Bill Gates, Marc Zuckberger, Narendra Modi e a mãe d’água do Cariri: corpo de serpente e cabeça de mulher.

Sua terra, o Estado mais pobre da Índia — Gujarat — mesma terra de Narendra Modi.

O dinheiro mudou de mãos. O poder mudou de mãos. …e depois?

Um comentário em “Carolina

  • 18 de julho de 2024 em 09:51
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    Texto belíssimo e ilustrativo.

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