O tempo do PT
Sérgio Braga Vilas Boas*
Talvez a frase mais interessante sobre o imbróglio que se tornou a candidatura Lula à presidência da república tenha sido dita pelo candidato Ciro Gomes do PDT: “ é preciso respeitar o tempo do PT”.
Tenho lido inúmeras análises sobre o que deveria ou não fazer o PT e Lula. Desde manter a candidatura até o final dos tempos até decidir agora, de imediato, apoiar alguém, inclusive de outro partido.
A questão são os votos que Lula traz com ele. Levando-se em conta que a possibilidade de efetividade da sua candidatura seja, digamos, dificílima, quase que à espera de milagre, se contarmos apenas com as decisões da institucionalidade. Dizem muitos, é preciso dar termo à peleja, repassando os votos possíveis para outra candidatura possível.
Sim e não!
O PT é um partido inédito. Não surgiu da mesma maneira que todos os demais. É um misto de movimento e partido. Talvez tenha sido a primeira experiência dessa monta a ter chegado tão longe. É um redemoinho de correntes que vão desde as identificadas com o multiculturalismo e as razões identitária; ex-comunistas; uma pitada de trotskistas; keynesianos tradicionais e neodesenvolvimentistas.
Muitos, no PT, consideram o partido caudatário do bem, com uma sutil pitada de arrogância, é verdade. Todavia algo une o PT formidavelmente: Lula.
Lula está preso. Escolheu entregar-se aos algozes.
Errou? Talvez!
Eu por exemplo, teria partido para o exílio, pois creio que não há diálogo possível com golpes, seja o daqui ou de qualquer lugar.
Obviamente que a primeira conquista de qualquer golpe é a institucionalidade. Todos os golpes jabuticabanos contaram de imediato com a adesão do STF (e seus inferiores) e de todo o aparato de segurança institucional, que mantem desde sempre, uma deliciosa relação promiscua com a exceção. Portanto esperar que o “judiciário” resolva é uma aposta no mínimo ingênua.
Pedir exílio não é fugir, é deixar viva a possibilidade de livre, fazer o enfrentamento possível com o golpe.
Mas, o Lula não sou eu. Tem um partido que um dia imaginou criar; criou; acalantou seu crescimento; e sob sua indiscutível liderança chegou à presidência da república e realizou os governos onde a inclusão social foi a mais evidente da história deste país.
A despeito da decisão de entregar-se não ser estranha vinda do Lula, que sempre escolheu os caminhos da institucionalidade, mas, com o exilar-se? E o PT? Iria para o exílio junto com ele? Levaria junto com ele os retratos nas paredes das casas humildes do sertão nordestino e dos rincões da Amazônia? Parada indigesta!
O PT tem seu líder e fundador, primeiro colocado em todas as pesquisas eleitorais, condenado e preso. Vive um drama sem precedentes, inclusive em função do processo bastante criticado por significativa parte dos juristas mais renomados do pais e do mundo, que o condenou.
Qualquer movimento que não seja estar ao seu lado qual cão de guarda, não deve lhe ser exigido, mesmo que prantear sem termo não seja uma boa opção.
Ah, mas a vida segue! Sim, segue.
Tem um pais destruído que precisa ser reconstruído! Sim, tem.
Corremos o risco de ter uma disputa entre representantes da direita! É possível.
Faltam apenas 150 dias para a eleição! Sim, faltam.
Lula tem o poder de unir o PT, e também os golpistas, contra ele. Todos esperam pelos votos que podem migrar de Lula, inclusive os golpistas.
O tempo urge, mas ainda há muito o que pensar sobre o que fazer.
Se mantem a candidatura, mantém o PT unido e o golpe unido no sentido do seu aniquilamento. Se abre mão desde já, pode abrir a disputa interna fraticida dentro do PT, e por tabela unir o golpe contra seu ungido (se valer à pena), sem arrefecer as más intenções do golpe contra ele e o PT.
É duro, mas quem disse que viver é tarefa fácil!
Há que manter a candidatura até o fim? Calma, preparemos as unhas para roê-las, pois há que se esperar o tempo do PT. E, ainda creio, que o líder Lula, não faltará.
Por enquanto, vou de rivotril!
*Líder sindical bancário e funcionário aposentado do Banco do Brasil.