É preciso parar de incendiar pontes
Edberto Ticianeli – Jornalista
O ser humano é um ser social. Isso significa que ele está em permanente troca com o seu meio.
Particularmente, na relação com outras pessoas, identifica afinidades, incompatibilidades e descobre seus pertencimentos.
Pode se aproximar ou se afastar de alguém ou de um grupo de acordo com estas descobertas.
Mas é de sua natureza procurar os fatores que o aproxima dos outros, mesmo quando percebe que também há motivos para distanciamentos.
Nas sociedades baseadas na exploração do homem pelo homem essa lógica vem sendo alterada intencionalmente.
Os exploradores, no seu processo de desumanização, reduzem ao máximo os fatores de aproximação.
É preciso anular as principais características de sociabilidade e fazer triunfar os interesses individuais.
Quando isso ocorre, dialeticamente o ser humano passa a priorizar as suas diferenças na relação com os do seu meio.
Assim, trabalhadores não se comportam como classe, desumanizados pela exploração do capital, privilegiam diferenças que bem podiam ser enfrentadas de forma secundária.
Priorizamos valores, comportamentos e discursos sem utilizarmos outra capacidade humana tão esquecida: o senso crítico.
O que unia amigos, familiares e classes sociais é esquecido para dar lugar as ofensas, hostilidades, insultos e agressões.
Tudo porque fomos atomizados em pequenos universos, onde um acidente de trânsito tem a dimensão de uma Terceira Guerra Mundial.
Nosso horizonte é curto. Não pensamos grande.
As discordâncias ou visão diferentes de mundo existem e nunca deixarão de existir.
Haverá mesmo momentos em elas vão definir grandes embates entre campos políticos.
Quando isso ocorrer teremos agrupamentos em que os fatores de unidade suplantarão as razões da desagregação social entre os explorados.
Para alcançarmos esta condição é preciso impedir o perigoso processo de pulverização, que forma milhares de guetos, núcleos que se esforçam à exaustão para encontrar motivos para o isolamento.
Chegamos a este estágio porque perdemos a capacidade de entender os complexos caminhos que são percorridos pelos segmentos sociais para se situarem corretamente na intricada arena da luta de classes.
Não percebemos que adversários políticos de um determinado momento histórico podem, muito brevemente, serem tangidos por premências econômicas a se posicionarem entre os igualmente feridos pela lei do lucro máximo.
É preciso pararmos de incendiar pontes para construirmos as relações que permitirão, num futuro próximo, o estabelecimento de um amplo campo de lutadores pela libertação humana.