O apoio de Lula a Rafael Brito era óbvio e ululante
Edberto Ticianeli
Jornalista
O escritor e jornalista Otto Lara Resende diariamente, no seu trajeto para o trabalho, passava por ruas e avenidas do Rio de Janeiro próximas à enorme pedra que ficou conhecida como Pão de Açúcar.
Certo dia, ao olhar pela janela do seu carro, se assustou ao notar o gigantesco granito, famoso cartão postal da cidade. Quem descreveu a cena foi Nelson Rodrigues: “Durante anos, o Pão de Açúcar, de tão óbvio, passou despercebido por Otto. Era como se não existisse. Mas um dia, enfim, Otto o enxergou. Era o óbvio ululante”.
Não sei se existem “Ottos” na política, mas pode-se constatar que de vez em quando não se enxerga o óbvio e ululante. Quer um exemplo? Veja a polêmica que envolveu o PT e o MDB na escolha do candidato a prefeito de Maceió.
Todo mundo sabe que Lula trabalha para ser reeleito em 2026 e que é um mestre na arte de fortalecer o seu campo político-eleitoral. Já demonstrava essa habilidade no movimento sindical, onde costurava alianças de forma surpreendente. Se é óbvio constatar que vai precisar de votos em Alagoas, é ululante concluir que não desprezará em hipótese alguma a sólida aliança com o fortíssimo MDB no estado.
Do outro lado da aliança, o líder emedebista Renan Calheiros divide com Lula a lupa sobre as eleições de 2026, quando tentará sua recondução para o Senado e, se possível, eleger o governador de Alagoas. Enfrentará ninguém menos que Arthur Lira e JHC, também interessados nos mesmos cargos.
É fácil perceber que as eleições municipais continuam sendo preparatórias para o pleito seguinte. Momento de acumulação forças para quem quer disputar os principais cargos majoritários nos estados e no país. Não seria diferente em Maceió. Renan Calheiros e Lula, de olhos no futuro comum, anunciaram o noivado apadrinhando o candidato do MDB a prefeito da capital. Batido o martelo, é Rafael Brito quem vai liderar na cidade a pré-campanha de Lula e Renan para 2026.
Nelson Rodrigues perguntaria: — Como esse enorme “Pão de Açúcar” não foi visto?
