Amazônia: cobiça e crime
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Desde a década de 1840, e ainda bem antes, franceses, ingleses e norte-americanos tentam colonizar a América do Sul, com foco naquilo que a geopolítica chama de espaço vital Os norte-americanos chegaram a ter um ambicioso projeto hidroviário que unia o Rio Amazonas ao Rio da Prata. Pedro II e, principalmente, a competente diplomacia do Império chefiada por seu mais longevo chanceler, Paulino José Soares de Souza, o Visconde do Uruguai, ganharam a batalha da soberania brasileira sobre a totalidade do seu território herdado de Portugal.
A tática era sempre a mesma: dividir e corromper os governantes dos países amazônicos para isolar o renitente Império do Brasil. Os liberais, almofadinhas da aristocracia e burguesia urbana, fascinados com o progresso industrial e mercantil da jovem República norte-americana não achavam uma má ideia a colonização. Tavares Basto foi um arauto do modelo norte-americano e defendeu a livre navegação internacional do Rio Amazonas.
Os conservadores preferiram criar uma infraestrutura nacional e incentivar a sua própria indústria de navegação e de comércio na Região amazônica. Pedro II atendeu às ponderações do seu chanceler, Paulino, e subsidiou o empreendimento privado do Barão de Mauá, convencido a entrar nessa empreitada pioneira por noites e noites de conversas na varanda da casa do futuro Visconde do Uruguai, na sala da sua casa, no Rio de Janeiro.
Nos anos 80 do século vinte, depois dos fracassados empreendimentos norte-americanos da Fordlândia e do magnata Ludwig na Amazônia; mudaram a estratégia para criação de um futuro condomínio internacional para preservar o “pulmão do mundo” e o “patrimônio da humanidade”. A Amazônia brasileira passou a ser a decantada “Rain Forest”, que virou estampa de camisetas e lanchonetes nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. Toda uma geração europeia foi bombardeada com filmes, livros e revistas sobre a destruição da “Rain Forest” no Brasil. O foco foi sempre no Brasil.
Foi na década de 80 que o Cacique Raoni começou a frequentar os gabinetes dourado do Palácio do Eliseu, sede da Presidência da República, em Paris. Lembro de uma cena em que Raoni passeava com seus cicerones no Boulevard Saint Germain e um pintor de paredes que estava no topo de uma escada pintando ao olhar para baixo surpreso com aquele ser exótico caiu da escada.
Antes, no século XVI, espécimes humanos da Amazônia, já haviam sido levados ao porto negreiro de Nantes, para exibições públicas. Montaigne faz o relato em seus ensaios. A nossa diplomacia conseguiu reverter toda essa campanha midiática dos anos 80, com um dos maiores feitos da história do Itamaraty.
A partir da Eco-92 no do governo de Fernando Collor, que soube compreender as razões de Estado da inciativa brasileira, foi que o Itamaraty passou a liderar a diplomacia ambiental no mundo. Não disparando arcos e flechas ou usando tacapes para se mostrar no palco político interno, mas para defender, com argumentos e ações, o seu pleno direito à soberania sobre a parte da Amazônia que lhe cabe.
Quando, em setembro de 2019, os europeus alardearam para suas opiniões pública que iriam “doar” 500 milhões de euros para salvar a Amazônia, estranhamente a diplomacia profissional do Brasil calou-se. Tinha perdido a voz ou a percepção do que seja o jogo diplomático? Silêncios como aquele somente reforçam a impressão generalizada na Europa Ocidental e nos Estados Unidos sobre o “perigo brasileiro” na Amazônia, especialmente neste momento em que a região tornou-se um dos principais eixos do narcotráfico global envolvendo Peru, Bolívia, Venezuela, Paraguai, Colômbia e por via indireta os poderosos cartéis mexicanos e seus aliados nos EUA. Isso não é bom para o Brasil. Quem tem que cuidar da Amazônia e do nosso meio ambiente é o Estado e o povo brasileiro.