É Lula ou nada?
Sérgio Braga Vilas Boas*
Começo respondendo: da minha parte, não sei. Todavia entre o agora e outubro, há a eternidade. Pode ser que as coisas tomem outro rumo.
Mas o fato é que Lula é o único candidato que, segundo as pesquisas divulgadas até agora, pode vencer o Nada. Chega a 33%, enquanto o segundo colocado, o Ninguém, mais conhecido por Branco/Nulo, chega a 22%. Sem ele, Lula, o Seu Ninguém chega a 33%.
Essa curiosa situação foi agravada pelo golpe, embora crise de representatividade e de autoridade pairam no ar sempre. É acalantada formidavelmente por uma sociedade que insiste em resistir bravamente ao processo civilizatório. O gosto empedernido pelo atraso está sempre na prateleira e dele se lança mão ao primeiro sinal, por mais insipiente que seja, de progresso.
Em agosto de 2016, Wanderley Guilherme dos Santos, no artigo “O Grande Salto Pra Trás de Michel Temer” escreveu: “Hoje, Michel Temer dá o tempero insosso ao caldeirão reacionário em que se misturam os pelotões de sempre da retaguarda. Dos políticos vertebrados poucos restam, paralisados pelo nível de despudor explícito das negociatas entre Legislativo e Executivo, com participações especiais do Judiciário, noticiadas como rotina por uma imprensa concentrada, chantagista e vingativa. A burocracia estatal espatifou-se em tribos predatórias e ameaçadoras: polícia federal, procuradores públicos, fiscais aduaneiros, auditores, juízes e todas as demais gangues, medindo-se semanal, mensal, anualmente, em campeonato de extorsões da renda nacional à vista do público desarmado, sem refúgio e sem nicho de apelação. A população brasileira está sendo sistematicamente estuprada por folhas de pagamento em que os penduricalhos de benefícios laterais a título de todos os auxílios de que ela própria é desvalida, transformados no meu champanhe, minha vida dos casamentos-ostentação de políticos, juízes, empresários, banqueiros e chalaças”.
Enfim, o golpe foi apenas o tempero insosso de um menu que volta à mesa vez por outra.
Mas voltando ao início, o golpe foi um sucesso no que se refere a trazer de volta o Brasil à condição de “hacienda”, e desta vez sino americana.
Mas sob o ponto de vista político foi um desastre.
Produziu um NADA CANDIDATO, e um CANDIDATO DO NADA. Seu Ninguém e Bolsonaro. Sem Lula, Seu Ninguém em primeiro e Bolsonaro em segundo. Com Lula, este em primeiro, Seu Ninguém em segundo e Bolsonaro em terceiro.
Seu Ninguém dispensa comentários. Bolsonaro é o candidato do Nada; o candidato bactéria, que vem para questionar, inclusive o direito à vida; o candidato da ausência de pensamento e linguagem. O Vácuo.
Pois é, foi isso que o golpe conseguiu produzir e apresentar para a sociedade que o urdiu: unidos, o ninguém e o nada, conseguem chegar a 37%, e Lula a 33%.
E, parece que é isso que a tal “voz das ruas”, tão celebrada, tem dito: Lula ou nada. A ver.
*Líder sindical bancário e funcionário aposentado do Banco do Brasil.