Quem batiza estádio de futebol é o torcedor

Edberto Ticianeli – jornalista

De uma hora para outra Alagoas se vê discutindo uma iniciativa legislativa que pretende alterar a denominação da principal praça de esportes do estado. Querem depor o Rei Pelé para entronizarem a Rainha Marta.

Os argumentos para tal iniciativa não são muitos bons. Um deles é o de que Pelé nunca veio a Maceió. Absurdo! Veio e jogou a partida da inauguração do estádio que o homenageou.

O nome que seria colocado na placa para ser descerrada em 25 de outubro de 1970 seria o do governador Lamenha Filho.

Lembram do dia 21 de junho de 1970 no México? Quatro meses antes da inauguração, aos 18 minutos do primeiro tempo Pelé cabeceou uma bola lançada por Rivelino marcando o primeiro gol da vitória brasileira sobre a Itália, o que garantiu a conquista definitiva da Taça Jules Rimet.

Lamenha Filho teve a grandeza de renunciar à honraria e deixou que o homenageado fosse escolhido pelos torcedores. Deu Pelé.

O que poucos sabem é que o nome já estava escolhido antes da copa do mundo. E não era nem Lamenha Filho e nem Rei Pelé.

Vinicius Maia Nobre testemunha que antes mesmo do estádio ser inaugurado já se referiam a ele como Trapichão: “Após um jogo recreio entre uma equipe formada por jornalistas que faziam a crônica esportiva e a da construção, num campo improvisado, onde hoje se ergue o Ginásio Presidente Fernando Collor, conjeturando o nome pelo qual se deveria chamar o estádio, um deles exclamou, ‘Trapichão!‘. Era uma alusão ao nome do bairro, no aumentativo, muito em moda, como o Batistão (Lourival Batista, em Aracajú), Mineirão e outros. Estava realizado o batismo: a partir de então, o nome se espalhou e pegou”.

Esse histórico depoimento do engenheiro que coordenou a construção do estádio revela uma verdade irrefutável: no Brasil são raros os estádios que são tratados pelo nome oficial.

Maia Nobre citou Trapichão, Batistão (Estádio Estadual Lourival Baptista) e Mineirão (Estádio Governador Magalhães Pinto). Mas podemos encontrar vários outros.

Maracanã (Estádio Jornalista Mário Filho), Morumbi (Estádio Cícero Pompeu de Toledo), Castelão (Estádio Governador Plácido Castelo), Arruda (Estádio José do Rego Maciel), Albertão (Estádio Governador Alberto Tavares Silva), Beira-Rio (Estádio José Pinheiro Borda) e Fonte Nova (Complexo Esportivo Cultural Octávio Mangabeira).

Tem mais: Mangueirão (Estádio Estadual Jornalista Edgar Augusto Proença), Itaquerão (Arena Corinthians), Engenhão (Estádio Olímpico Nilton Santos), Arena Pernambuco (Estádio Governador Carlos Wilson Campos), Arena da Baixada (Estádio Joaquim Américo Guimarães), Pacaembu (Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho) e Barradão (Estádio Manoel Barradas).

Ainda estes: Ilha do Retiro (Estádio Adelmar da Costa Carvalho), Pituaçu (Estádio Governador Roberto Santos), Do Café (Estádio Municipal Jacy Scaff), Almeidão (Estádio José Américo de Almeida Filho), Amigão (Estádio Governador Ernani Sátyro), Morenão (Estádio Universitário Pedro Pedrossian), Independência (Estádio Raimundo Sampaio), PV (Estádio Presidente Vargas), Ressacada (Estádio Aderbal Ramos da Silva) e Frasqueirão (Estádio Maria Lamas Farache).

Alguns poucos conseguiram manter as denominações oficiais, como o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, o Mané Garrincha.

Como se percebe, uma rápida pesquisa nos ensina que no ambiente do futebol a voz do povo e de deus é a… voz do torcedor!

E antes que comecem a chamar o Trapichão de Martão, opino que deveríamos deixar como está.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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