Lula e as eleições de 1992 em Maceió
Edberto Ticianeli – jornalista
As campanhas para prefeito e vereadores em Maceió daquele ano se arrastavam sem grandes novidades até junho, quando o Congresso instituiu uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as denúncias contra o presidente Collor.
Esperava-se que o principal embate se desse entre o candidato apoiado pelo bloco formado pelo governador Geraldo Bulhões e o presidente Collor e a Frente das Oposições liderada pelo senador Téo Vilela.
Do lado governista, o deputado estadual José Bernardes venceu a disputa interna para a escolha do candidato, superando Antônio Holanda, Augusto Farias e Benedito de Lira. Seu vice foi o vereador Aderval Viana.

Na oposição, consolidou-se rapidamente o polo que tinha como candidato o senador Téo Vilela. Seu vice foi objeto de intensa disputa entre Ronaldo Lessa, Eduardo Bomfim e Marcos Vasconcelos, que foi o escolhido, principalmente por ser do forte PMDB.
O PSB não concordou com a escolha e se afastou da Frente das Oposições, lançando Ronaldo Lessa candidato com o apoio do Partido dos Trabalhadores, que indicou como vice o advogado Ricardo Coelho. Em pouco tempo foi substituído por Heloísa Helena com o objetivo de angariar os votos femininos da capital.
Mendonça Neto, do PDT, corria por fora tendo como vice o deputado estadual Cícero Amélio. No meio da campanha, Mendonça Neto desistiu e passou a apoiar Ronaldo Lessa.
Um fato histórico aconteceu nesta eleição: Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira se postaram em campos antagônicos. Suruagy ficou com Téo Vilela e Guilherme com José Bernardes.
Téo Vilela queria o apoio do PT
Como Lula tinha saído das eleições de 1989 fortalecido, mesmo sendo derrotado por Collor, era esperado em Maceió o seu apoio a Téo Vilela, que representava um forte grupo de oposição ao presidente da República e ao governador Geraldo Bulhões.

Os analistas consideravam que isso aconteceria por não ter o PT em Maceió um nome eleitoralmente habilitado para entrar numa disputa entre candidatos bem estruturados, como apontavam todas as pesquisas.
Lula também pretendia ver o seu partido participando do bloco oposicionista por nutrir simpatia pelo filho do falecido senador Teotônio Vilela, que o apoiou em momentos difíceis.
Téo Vilela era um “tucano” dissidente e já havia mantido conversas com dirigentes do PT. Esteve com José Dirceu em 8 de abril daquele ano.
O PT em Maceió também discutiu essa possibilidade, mas com o surgimento da candidatura de Ronaldo Lessa optou por coligar-se com um projeto mais a esquerda, além de ter a oportunidade de indicar o vice da chapa.
Alguns jornais especulavam que o Diretório do PT em Alagoas contrariava a orientação de Lula.
Sabendo que nas pesquisas Ronaldo Lessa não aparecia bem, Téo Vilela não desistiu de ter Lula em seu palanque e como ele estava em Maceió, o procurou na tarde do sábado, 4 de julho, no Maceió Mar Hotel.
Lula viera para o showmício de lançamento da campanha de Ronaldo Lessa, que aconteceu no dia seguinte em Sete Coqueiros com a presença do cantor Edson Gomes.
Conversaram, mas Lula estava convencido que o PT de Alagoas tinha escolhido o melhor caminho.
Quando Téo Vilela chegou ao hotel, a equipe do jornal O Diário entrevistava Lula.
O jornalista Plínio Nicácio, que fotografou a entrevista, permaneceu no local e conseguiu registrar alguns flagrantes da conversa entre eles, que contou também com a participação de Pedro Verdino, do PT Alagoas, e de Francisco Rocha da Silva, o Rochinha, dirigente nacional do partido.
Essa é a história das fotos aqui publicadas.
A outra história, a da eleição, todos conhecem: Ronaldo Lessa passou a campanha inteira denunciando Collor, mas continuava a não aparecer bem nas pesquisas. Dias antes das eleições o DataFolha lhe atribuía 13% das intenções de votos.
Abertas as urnas (naquele tempo se abria urnas), foi o mais votado e no segundo turno derrotou José Bernardes. Teve 97.770 votos contra 50.241 do adversário.