Apagão diplomático

Por Miguel Gustavo de Paiva Torres

Moldado nas tradições das milenárias diplomacias francesa e anglo-saxônica o Itamaraty foi uma das chancelarias mais respeitadas do mundo, ao norte e ao sul, no ocidente e no oriente, por seu profissionalismo e visão estratégica de Estado.

Diplomata Miguel Gustavo de Paiva Torres

Mesmo em momentos em que governos ideológicos, como os da safra militar e os da safra petista, tentaram inclinar a instituição para propósitos partidários, a instituição resistiu e com competência e maestria soube cumprir suas atribuições governamentais, de ocasião, sem sair do rumo da defesa do estado e dos interesses supra partidários da Nação. Sempre foi assim, desde a criação deste país chamado Brasil que surgiu em 1822, com o seu primeiro Chanceler, José Bonifácio.

O assalto dessa reserva fundamental do estado brasileiro, complemento indispensável às nossas Forças Armadas na defesa da nossa autonomia e soberania nacional, provoca uma fragilização perigosíssima para a nossa sobrevivência como união federativa nacional, às vésperas do bicentenário de nossa independência em 22 de abril de 2022.

O Itamaraty foi retirado do Estado e entregue como um brinde para o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do atual Presidente do Brasil. Megalomaníaco e disposto a ter o controle total da política externa do Brasil o deputado precisou encontrar, na carreira diplomática, alguém que estivesse disposto a seguir a sua voz e o seu comando.

Os altos comandos militares do país, parceiros indissociáveis da nossa diplomacia ao longo da nossa história, com dignas exceções, silenciaram e tocaram os seus submarinos para frente.

O escolhido para a missão de sustentar a diplomacia de terra arrasada, vinculada não a um país, mas a um líder ideológico, Donald Trump, foi um jovem e inexperiente diplomata chamado Ernesto Araújo, promovido às pressas ao título de Embaixador, sem nunca ter sido embaixador, posto que este título é função submetida ao escrutínio e aprovação do Senado Federal, e não cargo burocrático da estrutura de carreira.

Uma jogada política. Encontrar um aliado na instituição para fazer da instituição uma ponta de lança de um projeto ideológico e político eleitoral de uma família que chegou ao poder com uma maioria que só pôde ser formada pelas promessas eleitorais de que o Brasil teria um governo “sem viés ideológico”, técnico e profissional. Não foi o que aconteceu. Foi uma fraude eleitoral como tantas outras que o país já sofreu ao longo dos últimos 200 anos de sua existência no concerto das nações.

O Itamaraty passou a ser a copa e a cozinha do projeto de poder de um grupo específico que surgiu no cenário político do Brasil, copiado do receituário trumpista, finalmente derrotado pela maioria civil e militar norte-americana.

Ernesto Araújo, com a perspectiva de algum mínimo poder no interior de sua instituição de carreira, preferiu deixar o Itamaraty e o Brasil de lado para se aliar à estratégia das falsas narrativas, falsas conspirações e falsas notícias. Se aliar à política da mentira. Desmoralizada.

Finalmente, transformou nosso país no pária mundial, do qual tanto se orgulhou em discurso aos jovens diplomatas formandos do Instituto Rio Branco, a academia do nosso resistente baluarte diplomático, o Itamaraty.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Um comentário em “Apagão diplomático

  • 21 de janeiro de 2021 em 16:18
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    Como esse diplomata ousa mentir sobre a competência do Chanceler Celso Amorim? A “safra petista”, como ele chama, NÃO tentou “inclinar o Itamaraty para propósitos partidários” como essa criatura falsamente diz. Os governos do PT ficaram conhecidos e respeitados no exterior com a diplomacia de excelência de seus embaixadores e chanceler Celso Amorim. Que falta de respeito e de verdades!!! Menos, Miguel Torres, bem menos.

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