A Variante do Coringa

Por Miguel Gustavo de Paiva Torres

Escritor e diplomata Miguel Gustavo de Paiva Torres

O espírito de Idi Amin Dada — sanguinário ditador-palhaço africano famoso nos anos 70 do século 20 — baixou na Casa Branca em 2016 e atacou como peste virulenta corações e mentes infestados por mentiras, repetidas à exaustão, conclamando cidadãos pacatos e barrigudos a se juntarem a napoleões de hospício no comando de turbas armadas e assassinas. Não é ficção. É a realidade atual de janeiro de 2021 na antiga democracia comandada pela lei nos Estados Unidos da América.

Neste pavoroso mês de janeiro de 2021, a capital da moderna democracia ocidental, Washington, está ocupada por mais de 25 mil militares da guarda nacional, número 5 vezes superior ao das forças militares ainda estacionadas no Afeganistão e no Iraque para combate ao terrorismo e promoção da democracia liberal naqueles países e arredores.

Ironia da história: o terrorismo e o golpe contra esse velho modelo de organização política, fundamento da sociedade norte-americana, está sendo levado a cabo por milícias formadas por cidadãos norte-americanos “normais”, supremacistas brancos de raiz, com valor agregado por perturbados mentais, doutrinados por aspirantes a ditador e messias salvacionistas.

Pobre do coitado Idi Amin Dada: bebeu tanto sangue de brancos em Uganda que terminou reencarnado no leitoso Donald Trump em Nova Iorque, a caminho do trono imperial em Washington.

Com meia dúzia de pilantras formou uma rede gigantesca de apoiadores atraídos pelos mais baixos instintos dos nossos ancestrais bárbaros: o racismo e o ódio aos diferentes e aos mais fracos. Levantar muros foi a primeira invocação. Nós contra eles. Nós contra todos. América Primeiro. A segunda invocação foi feita às armas: lutar como se luta no inferno. Enforcar. Matar.

Pelo mundo afora, principalmente nas suas dependências e intendências, a receita fez sucesso; muitos se candidataram a serem os Herodes locais do Chefe Supremo que incendiou sua própria capital.

E a peste se espalhou por todo lado. De Washington a Manaus fez a sombra da dor e da morte aparecer no sorriso cínico e mentiroso dos palhaços do mal. Invadiram as redes sociais e criaram realidades alternativas preparando a revolução dos bichos. Usaram o nosso dinheiro para pagar jornalistas de aluguel e agitadores no Facebook, no Instagram, no Telegram, no Youtube, no Google e no Twitter.

Mataram os seus próprios seguidores zombando das máscaras de proteção, incentivando aglomerações, mentindo e oferecendo cloroquina aos futuros defuntos. Negando e boicotando a pandemia. Atrapalhando, politizando e atrasando o trabalho sério e responsável de médicos e cientistas. Abrindo caminhos, na verdade alamedas, para a passagem triunfal da segunda onda de pavor, morte e dor. Tudo para satisfação do Coringa.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

2 comentários em “A Variante do Coringa

  • 18 de janeiro de 2021 em 09:59
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    Excelente texto, como sempre os artigos de Miguel são precisos, limpos e cortantes como lâmina. Leio todos.
    Parabéns Miguel

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  • 2 de novembro de 2022 em 16:43
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    Texto de uma realidade assustadora.Parabéns cunhado. Seu entendimento e lucidez é fantástico. 😍

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