Silvestre Péricles pagando com bala

Por Sebastião Nery

Silvestre Péricles de Gois Monteiro, doutor Silvestre, chefe político, governador, senhor do fogo e da água em Alagoas, elegeu-se senador e veio para o Rio. Jurou nunca mais meter-se em brigas cívicas.

Morava em Ipanema e todo dia pegava o lotação Ipanema-Malvino Reis para levar a neta ao Instituto de Educação, ali na Mariz e Barros.

Um dia, esqueceu a carteira em casa. Na hora de descer, não tinha dinheiro para as duas passagens.

Tirou papéis, remexeu, nada. Faltavam dois cruzeiros. Explicou a situação ao motorista. Cigarro na boca, cédulas dobradas enfiadas entre os dedos, o motorista nem olhou para o velho senador:

— Não quero saber de nada. Passe os dois malandros para cá. Só abro a porta quando os dois malandros estiverem aqui.

Tentou convencer o homem, não deu jeito. O lotação parado, todo mundo esperando, aquele vexame.

O senador Silvestre lembrou de Alagoas, puxou um 38 cano curto, deu dois tiros na porta:

— Estão aqui os dois malandros.

Até hoje o motorista corre.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Um comentário em “Silvestre Péricles pagando com bala

  • 31 de janeiro de 2021 em 12:15
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    A cada dia melhor, me emociono e me divirto muito ao ler aprender com você, Ticianeli.
    Obrigada🌷

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