Paulo Renault

Sérgio Braga Vilas Boas

Paulo era meu irmão. O terceiro filho de D. Leda e seu Renaur. Eu, o quarto. Faleceu prematuramente aos 45 anos de idade. Não me lembro o ano, a despeito de ser fácil fazer as contas, mas não faço. Não costumo nem tenho vontade de guardar o ano em que pessoas próximas se vão. Gosto de guardá-las vivas na mente. Nasceu em 29 de outubro de 1958.

Paulo era poeta, escritor, um artista. Escreveu “Maceió Cidade Aberta”, entre outras obras, uma verdadeira declaração de amor a Maceió. Tenho o livro guardado na cabeceira da minha cama.

Mas, “o Cara” tinha um lado pitoresco, cômico. Era pra lá de carismático. Exagerado, tanto elevava pessoas do seu convívio aos céus quanto as descia ao inferno em fração de segundos. Abaixo vou tentar narrar alguns fatos que ocorreram tendo o Paulo como protagonista.

Perdestes

Paulo, bem antes de casar com a Márcia, arranjou uma namorada lá pelos lados da Utinga. Cheguei a conhecê-la. Uma morena magra e bonita. Vou ocultar seu verdadeiro nome e chamá-la de Angélica.

Angélica, tinha um tio que apreciava tomar umas e outras com certa frequência. Paulo, que também era do ramo, construiu uma bela amizade com “o tio”.  Aos sábados, Paulo se largava lá pra Utinga, passava umas horas na casa da Angélica, e danava-se para casa do tio. E por lá, deliciava-se, a conversar, com doses de boa cachaça.

Um dia, Angélica chamou o Paulo pra conversar:

— Paulo, precisamos conversar!

— Pode falar!

— Assim não dá! Você vem para cá, passa um tempo comigo, depois vai encher a cara na casa do meu tio, e fico aqui com a cara de tacho! Assim não dá, repetiu, e deu um ultimato: ou eu ou a cachaça!

Paulo pôs-se a pensar, demorou alguns segundos e respondeu:

— PERDESTES!

Dificuldade de abotoar

Um dia encontrei o Paulo andando apressado pela Rua do Comércio:

— Paulo, pra onde vai tão apressado?

— Vou à casa de mamãe!

— Paulo, você prestou atenção que sua camisa está pelo avesso?

— Por isso que que eu tive uma dificuldade terrível de abotoar!

Cadarços do Rodrigo

Fui até a casa de D. Leda, nossa mãe, e lá estava o Paulo, sentado no sofá. Reparei que os cadarços do tênis que ele calçava só iam até a metade.

— Paulo, que diabos de cadarços são esses, que só vão até a metade?

— Ah, são do tênis do Rodrigo — seu filho mais velho, meu sobrinho, que à época contava com uns 6 anos!

— Do Rodrigo?

— Sim. Perdi os meus e peguei os do tênis do Rodrigo!

E continuou lá balançando as pernas na maior normalidade.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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