Mimimi na toca da hiena

Miguel Gustavo de Paiva Torres

A hiena piscou o olho e abriu um sorriso pedindo ao amigo lobo para sorrir também em sua conferência semanal na assembleia dos animais. Queria esconder que, acuada, era naturalmente mais feroz, mentirosa e descarada.

Considerava ela que a devastação das vidas nada mais era do que o pânico espalhado propositalmente pelos inimigos nos quatro cantos do mundo bombardeando o seu governo nas televisões com “falácias”.

Os ideólogos do seu falido governo adoram a palavra “falácia”, especialidade do discurso que criaram para o governante máximo do Brasil.

—  Desliguem suas televisões —, pedem desesperadamente em seus grupos de mensagens no Zap, única fonte confiável de informações permitida aos seus seguidores incondicionais, que garantem todos os dias: aconteça o que acontecer estaremos sempre, e até a morte, com a hiena, nosso rei e rainha.

Comemoram eles: “Nessa grande falácia nacional conseguimos a fantástica marca de 261 mil cadáveres vitimados pelo “vírus do pavor”; criado e alimentado pela imprensa oposicionista ao governo da verdade; este governo que enviou várias equipes do seu ministério da saúde para explicar, na falta de oxigênio e de vacinas, os tratamentos precoces que salvariam vidas, com o uso milagroso de cloroquina, ivermectina e ozônio anal”.

Avaliam que foram sistematicamente bombardeados pelas redes de televisão e pela imprensa, que só pensam em derrubar a hiena do seu trono na floresta dos mortos-vivos. “Todo dia sempre morreu gente e as pessoas morrem naturalmente de várias enfermidades. Agora querem culpar a boa e corajosa hiena com esse mimimi e frescura de que o povo brasileiro está morrendo por falta de orientações preventivas e vacinas”.

Vá comprar vacina na casa da tua mãe —, diz a hiena em seu discurso inflamado, colocando mais fogo nas ambulâncias do SAMU e nos hospitais. E estimula: “sejam homens e mulheres de verdade e saiam para trabalhar. Peguem o ônibus e o trem da central e vão ganhar suas vidas. Não acreditem na Globolixo, Bandlixo, Redelixo, Recordlixo e todas essas porcarias que querem nos derrubar”.

Se reconhece como “o cavaleiro do apocalipse enviado para o juízo final dessa corja de esquerdistas que querem voltar ao poder para esmagar a liberdade do nosso povo com suas falácias. Fiquem em nossos grupos, convertam, tragam novos militantes, vamos ser reeleitos para a salvação final do nosso Brasil”.

Anuncia que “falta menos de dois anos para a nossa vitória retumbante nas urnas funerárias de 2022. E tem mais, — afirma séria a nossa hiena —, se nós não vencermos as eleições, vocês vão perder suas boquinhas e vão aparelhar novamente o Brasil com a turma do Lula. Lutem por seus empregos. O desemprego está campeando. Lembrem-se desse fato.” É fato.

“Fiquem calmos nessa parada. O nosso querido chanceler Ernesto vai viajar para Israel e trará um spray nasal de altíssima tecnologia, que só poderia ser produzido por esse povo santo do evangelho. Vamos acabar com essa farsa globalista. Até o final deste ano vamos desmascarar esses infectologistas e virologistas esquerdistas, que estão matando por matar, no mundo inteiro, os nossos irmãos de fé. E em verdade vos digo: só a verdade vos salvará. Aguentem o tranco”, finalizou a hiena, dando sete saltos e caindo em pé.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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