Lula dá aula de comunicação e humilha Bolsonaro
Edberto Ticianeli
Estava na frente da TV, no meio do dia de hoje, vendo o Lula falar para o Brasil, prestando máxima atenção no conteúdo da sua fala para captar teores subliminares, quando percebi que bastava vacilar um pouco e o foco era desviado para a forma.
Isso me intrigou. Acompanho política o tempo suficiente para conhecer o brilhantismo do Lula quando se comunica. Não era para a forma está me roubando a atenção.
Somente depois que Lula concluiu suas “breves palavras” (uma hora e meia de falação merece o Prêmio Fidel Castro, categoria Prata), foi que refleti: estou há tanto tempo ouvindo abobrinhas do Bolsonaro que o discurso do Lula me soou como algo bem superior ao normal.
Foi isso! A distância entre Lula e Bolsonaro é abissal.
Na forma, Bolsonaro parece a voz do Google de ressaca (me desculpem Larry Page e Sergey Brin), enquanto que Lula, mesmo com limitações evidentes em suas cordas vocais, tem a fluência de uma matraca e usa com sutileza os argumentos como se fosse um bom vendedor de automóvel com o litro da gasolina acima dos R$ 5,00.
No quesito conteúdo, não dá para comparar. Lula ganha por W.O.
O ex-presidente sabe como funciona o jogo do poder no mundo do capital. Durante sua intervenção, cansou de acenar lenço branco para o empresariado, num claro esforço para recuperar apoios políticos perdidos.
No mais, bateu em quem tinha que bater e afagou quem tinha que afagar.
Resumo da ópera: de tanto ouvir baboseiras do Bolsonaro e dos seus ministros, Lula me pareceu hoje um Demóstenes, que para se transformar no maior orador da antiguidade teve que superar sua gagueira correndo na praia ao mesmo tempo em que declamava poesias.
Acho que flagramos o momento em que Lula, já sem correr, apresentava suas rimas.
De fato, Lula é um fenomenal ser humano, que além de ser um grande orador sabe governar muito bem, tem um enorme carisma pra negociar e lidar com as maiores adversidades.