Construir alianças para derrotar a barbárie

Zé Roberto – Ativista Sindical e Político

José Roberto Mendes do Amaral

Na política e na vida, de vez em quando é bom visitar o passado para tirar os ensinamentos das nossas práticas, sempre com erros e acertos.

Como foi aberta a temporada de discussão sobre as alianças políticas e eleitorais, principalmente após Lula estar habilitado a disputar as eleições de 2022, me disponho a externar o que penso sobre o assunto.

Para início de conversa, vou tomar como referência o 2º turno das eleições presidenciais de 2002, quando o PT disputou contra o PSDB.

A aliança liderada pelo Partido dos Trabalhadores contava com os seguintes partidos: PT, PL, PCdoB, PPS, PDT, PTB, PSB, PGT, PSC, PTC, PV, PMN, PHS e PCB.

Percebam que lá estavam partidos conservadores, como o PMN e PL, além de receber o apoio de grupos que também atuam nesse mesmo espectro político e ligados a outros partidos (PP, PTB e PMDB).

No outro extremo da coligação que elegeu Lula estavam os dois partidos comunistas do país (PCB e PCdoB).

Essa composição levou o governo Lula a tomar medidas atendendo as pautas dos conservadores e dos progressistas.

É muito importante salientar que essas alianças ele teria que estabelecê-las para vencer as eleições ou para governar o país, caso fosse eleito

Supondo que tivesse vencido as eleições somente com as alianças do 1º turno (PT, PL, PCdoB, PMN e PCB), avalio que inevitavelmente teria que ampliá-las para ter condições políticas para comandar o país.

Sabemos que o eleitorado brasileiro é, em sua maioria, notoriamente conservador. Não consigo enxergar mais de 25% dos eleitores com posições mais progressistas ou de esquerda.

Existe ainda uma faixa desses brasileiros que oscila suas preferências políticas à luz de paixões conjunturais ou sob os efeitos das campanhas.

Quando pendem para a esquerda, possibilitam a vitória desse campo, a exemplo da frente política que se conformou para eleger Lula em 2002.

O mesmo pode acontecer em 2022.

Parcela do eleitorado que votou contra Haddad em 2018, poderá votar numa chapa contrária a Bolsonaro.

Mas isso vai depender do grau de flexibilidade que a esquerda apresente ao compor as alianças para o 1º turno e, depois, caso tenha votação suficiente, em 2º turno.

Estou convicto de que não conseguiremos vencer sem contarmos com o apoio do centro/centro-direita e avalio que Lula tem uma correta visão sobre isso.

Essa possível construção nos coloca novamente, como em 2002, no dilema de ter que escolher entre estabelecermos as alianças ainda nas eleições para garantirmos a vitória, ou somente fazê-las para governar, caso sejamos eleitos.

Quando digo governar, incluo a necessária adoção de políticas reivindicadas pela esquerda, que trazem ganhos estruturais para o povo e o país, mas que precisam passar pelo crivo do Legislativo.

Como alguns vão afirmar que a esquerda não deve dialogar com quem votou a favor do impeachment de Dilma, me antecipo e argumento que não devemos cometer esse erro.

Nossa história não permite que continuemos a pensar e agir com inocência política e eleitoral.

Inevitavelmente teremos que ir buscar apoio entre forças que se alinharam para formar a expressiva frente contra a Dilma naquele episódio golpista.

Ou cindiremos aquela conformação política para trazemos parte dela em apoio ao campo progressista, ou não teremos como pensar em maioria política para vencer as eleições.

Repito: supondo que eu esteja equivocado e que a esquerda unida possua força política para vencer as eleições, sempre fica a pergunta: como vai fazer para conduzir o governo? Continuará sem alianças? É possível esse caminho?

Haverá quem argumente que, para governar, a aliança da esquerda tem que ser com o povo.

Essa solução, aparentemente simples, esconde imensa complexidade. Afinal, a esquerda está há mais de um século empenhada nessa construção e são raros, raríssimos, os momentos históricos em que isso se aconteceu.

Não é simples mobilizar o povo para ocupar as ruas, pressionando o Congresso a votar pela taxação das grandes fortunas, por exemplo.

Como levar multidões a exigir que seja desfeito o ato administrativo que tornou o Banco Central independente, ou para destravar o teto de gastos?

Quantos terão que ir às ruas para anular a reforma trabalhista criminosa ou para fortalecer e recolocar a Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa à serviço do Brasil?

Lembro que para aprovarmos algo de interesse da classe trabalhadora, das mulheres, negros, comunidade LGBTQIA+, índios, estudantes, etc, no Congresso Nacional, teremos que ter mais de 120 deputados federais.

Mas a aliança da esquerda com o povo não tem sido suficiente para eleger parlamentares na quantidade necessária.

Vale lembrar que os que pregam que a aliança deve ser somente com o povo, sabem perfeitamente que isso não é fácil.

Suas experiências eleitorais têm demonstrado como é difícil conquistar o voto popular.

Vivemos um momento ímpar na política brasileira e precisamos ter maturidade, humildade e sapiência política para empreender uma tática de resistência e acumulação de forças no sentido de buscar reconstruir o caminho progressista que teve início em 2003 com a chegada de Lula à Presidência.

Defendo isso por adotar o ensinamento do revolucionário Lenin, que nos deixou no seu legado teórico e prático que a essência da tática é a correlação de forças.

Política não se faz somente com profissão de fé.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Um comentário em “Construir alianças para derrotar a barbárie

  • 12 de março de 2021 em 18:54
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    Excelente análise do Zé Roberto, ajuda a fazer entender o complexo movimento das peças políticas no xadrez eleitoral dos turnos do processo eitoral e também do ponto de vista da governabilidade em um governo democrativo
    de coalizão.

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