Book sem Face

Edberto Ticianeli

Nos locais de vacinação contra o coronavírus é comum encontrar uma tabuleta que os vacinados exibem ao serem fotografados.

Testemunham que se vacinaram e estimulam outros a fazerem o mesmo.

É um bom material de divulgação e merece continuar a ser utilizado. Ajuda a quebrar o medo que alguns poucos manifestam dessa prevenção.

Ontem, estava eu no Facebook a ver estas pessoas, ao mesmo tempo que tentava identificá-las. Disse tentava, porque elas estavam de máscaras e isso dificultava muito a minha pesquisa.

Algumas, mais pelo nome que pelo rosto, foram fáceis. Mas outras eram impossíveis. As máscaras estavam altas, próximas aos olhos, praticamente tocando suas pálpebras inferiores.

Essa dificuldade de identificar alguém de máscara me fez lembrar das interrogações infantis que surgiram em minha cabeça ao ler os primeiros gibis (histórias em quadrinhos).

Chamava minha atenção que alguns heróis conseguiam manter suas identidades civis preservadas, mesmo quando encobriam somente pequenas partes do rosto.

Claro que existiam os que não deixavam ver nem o branco dos olhos, a exemplo do Homem-Aranha.

Mas a maioria quase nada escondia do rosto.

Robin, o jovem parceiro do Batman, e o Lanterna Verde, por exemplo, usavam pequenas máscaras em torno dos olhos. Uma mancha que bem podia ser superada por olheiras de uma noite mal dormida.

Robin e Lanterna Verde

O Zorro também usava esse recurso, mas incorporava um chapéu estilo mexicano. Entretanto, o bigodinho denunciava logo que era Don Diego de la Vega.

Don Diego de la Vega e Zorro

Descarados eram o Capitão Marvel e a Mulher Maravilha, que não ligavam para as máscaras. Atuavam contra o mal de cara lisa.

Capitão Marvel e Mulher Maravilha

Mas o que ficou mais fixado em minha mente foi o Super-Homem (Superman).

O cara enganava a namorada, a Lois Lane, e toda a redação do jornal Planeta Diário (Daily Planet) simplesmente usando óculos.

Clark Kent e Superman

Isso mesmo! O repórter Clark Kent entrava correndo num beco, tirava os óculos, a roupa e pronto: lá estava o herói.

Para ser honesto, mudava também o penteado. Aparecia uma mecha, mesmo não tendo nenhum salão de beleza no beco.

Foi essa capacidade de tirar os óculos e não ser reconhecido que atraiu a minha curiosidade infantil.

Como eu já usava óculos, fui para a frente do espelho e fiquei algum tempo tirando e colocando as lentes para ver se tinha alguma diferença.

Tinha diferença sim: sem óculos eu mal via o espelho.

O Super-Homem passou então a ser, para mim, um super-herói ridículo.

E acho que continua sendo. Se vivesse nos tempos atuais, de pandemia, sem usar máscara e sem poder tomar vacina (homem de aço), não seria um bom exemplo de herói.

Nesse caso, o melhor mesmo é deixar que as fotos de rostos dos vacinados, com suas máscaras, continuem a circular nas redes sociais sem maiores preocupações em reconhecê-los

Formam um book sem face dos nossos heróis anônimos que estão vencendo a luta pela vida.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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