A estupidez que nos persegue

Sergio Braga Vilas Boas

“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana.
Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta”
(Albert Einstein)

Outro dia, logo após o discurso do ex-presidente Lula, escrevi um artigo intitulado “O Som das Vertebras”. Na verdade, veio a calhar, pois não era sobre aquele assunto que queria escrever. Foi apenas oportuno. Juntou-se à fome, a vontade de comer.

Explico: o tema que queria abordar era a estupidez. Essa que nos persegue. Essa que nos faz ter depressão e desesperança no progresso da humanidade, que nos faz desejar ser o primeiro habitante de qualquer colônia em Marte, Júpiter, ou em qualquer outro lugar da galáxia. E, em se tratando de Brasil, que Deus nos acuda!

Decerto que a estupidez é antiquíssima, e é sobretudo uma marca humana que constou e ainda constará em bilhões de lápides, fez e fará parte de bilhões de epítetos.

Dizem as más línguas que o califa Rashidun Omar Ibn al-Khattad (versão contestada por muitos historiadores) mandou atear fogo na biblioteca de Alexandria sob o argumento de que: se o conteúdo dos livros estava em acordo com o Corão, bastava o Corão. E, se em desacordo, obviamente deviam ser também destruídos. Mesmo que contestada a versão, mesmo sem termos certeza sobre quem foi o estúpido, o fato é que a estupidez se fez presente ali, e perdeu-se parte significativa do conhecimento humano acumulado até então.

Lá pelos idos da idade das trevas, ou Idade Média, o Santo Ofício usava o “Malleus Maleficarum”, ou “Martelo das Bruxas”, para diagnosticar as ditas cujas. Era uma espécie de manual que servia para inquirir as suspeitas e torturá-las legalmente, pasmem!

E, trazia algumas certezas: as bruxas existiam; eram culpadas pelos males do mundo; obviamente eram mulheres; e se a mulher não chorasse durante a tortura, certamente, indubitavelmente, era bruxa e pronto. Momento de rara estupidez! Mereceria uma espécie de prêmio Nobel às avessas.

Mas, voltando à terra de Santa Cruz, somos estranhos, muito estranhos. Aqui proliferam religiões de todos os matizes, principalmente as que se dizem cristãs. Mas boa parte de seus adeptos, ao contrário do que preconizou Cristo, são raivosos, vingativos e curtem, como nenhum ateu que conheço, o ódio.

Têm como esporte predileto fazer julgamentos apressados, apontar dedos para erros alheios. Geralmente se consideram já salvos e devidamente ancorados no porto seguro celestial. E, como se não bastasse, falam em nome de Deus, e ainda se dizem ungidos. Ora, se Deus é Onipresente, Onisciente e Onipotente, por que precisaria de tantos intermediários? Um epíteto desenhado em ouro, como o bezerro, em exaltação ao canalhismo e à estupidez.

Na verdade, sempre subestimamos a quantidade de estúpidos em circulação. E, temos em geral como métrica, a ignorância. Ledo engano. A estupidez é plural e diversa. Em seu rebanho há ignorantes, letrados, e quiçá ganhadores de prêmio Nobel. Há negros, brancos, gente de olho puxado, de lábios finos ou grossos, LGTBQI+, gente à esquerda, à direita e ao centro.

Um estúpido sempre, invariavelmente, provoca perdas sem ganhar absolutamente nada, pois ao fim e ao cabo ele também perde. O estúpido faz o jogo de soma ZERO.

O estúpido rejeita qualquer argumento racional. E, além de ser detentor de uma cegueira aterradora, se orgulha categoricamente da sua própria estupidez.

Imaginem os senhores, quando a estupidez mais estúpida chega ao poder ancorada em um séquito! A hecatombe é mais previsível que a morte.

Daí a importância do discurso simples do ex-presidente Lula: é um libelo contra a estupidez!

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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