A conspiração das vacinas
Miguel Gustavo de Paiva Torres
A verdade não importa. Importa o argumento. Ter razão. Convencer. Enfiar na cabeça dos outros a “nova verdade”. Este é o fundamento para os disparos em massa de notícias, argumentos e opiniões com finalidade de neutralizar as verdades objetivas e criar, em seu lugar, falsas “verdades” capazes de infectar a consciência individual e o inconsciente coletivo de agrupamentos humanos.
Assim nascem os mitos e as crenças passadas de gerações em gerações, desde a antiguidade até os dias de hoje. Assim se sacrificam e morrem os seus fiéis seguidores nos altares dos seus mitos. Sem máscaras, aglomerados e sem vacinas.
Continuo recebendo insistentes mensagens de velhos amigos que entraram no beco sem saída das lavagens cerebrais e foram contaminados pela retórica do movimento bolsonarista, essa praga tóxica e mortal, construído no mesmo modelo antigo das lavagens cerebrais feitas por comunistas, fascistas e nazistas. Por educação não bloqueio, mas deleto automaticamente essas aberrações favoráveis a criminosos e à morte.
Não descansam enquanto não cumprirem a missão de infectar e arrastar novos companheiros para o movimento que, como em todos esses velhos movimentos políticos organizados, consideram a salvação da Pátria.
A massa pastosa, amarelada marrom, desses projetos fundamentalistas é a mesma: cinismo, raiva, frustrações, ressentimentos, falência de raciocínio, morte cerebral, solidão, vazio e vácuo existencial. Cega. E cega completamente. Nem a luz do sol sobrevive. O ego não permite reconhecer erros de percepções. Muito menos a possibilidade de terem sido enganados, ludibriados por aqueles que consideravam seus principais inimigos; os mestres da mentira e da corrupção, agora salvadores do movimento da verdade e da integridade moral da nação.
Defendem as atitudes negacionistas que pretendem minimizar a tragédia mundial da pandemia do Covid-19, potencializada pela irresponsabilidade política dos seus líderes em país emblemático como o Brasil, com seus quase 300 mil cadáveres — números apenas números —. Criam — todos os dias, noites e madrugadas —, e persistem em divulgar mentiras deslavadas e cabeludas no intuito de vencer a morte pelo jogo das palavras. Palavras tóxicas, venenosas, mentirosas.
Com absurdas 2.763 mortes em 24 horas no dia 17 de março de 2021 o Brasil superou o número de mortes dos Estados Unidos, Índia, Itália, Alemanha e França juntos. O Vietnam, pobre como o Brasil, com 100 milhões de habitantes, conseguiu conter a pandemia e não chegou a registrar 6 mil casos, com apenas 35 mortes.
Uma dessas mensagens criminosas disparada para milhões traçava um paralelo entre o islamismo contemporâneo e o uso de máscaras em espaços públicos nesta pandemia: a ideia do fabricante desta argumentação, contratado para a disseminação em massa nas redes sociais pelo movimento, seria a de que essa obrigação estaria vinculada ao plano de dominação globalista engendrado por George Soros — o Doutor Mabuse da pandemia chinesa.
Antes do início do atual governo das mortes, o ministro das relações exteriores escolhido por Eduardo Bolsonaro para obedecer a suas ordens, Ernesto Araújo, entrou no livro Guiness dos recordes no tema bajulação. Disse e repetiu o barbudo chanceler que a “providência divina” havia enviado Jair Messias Bolsonaro para salvar o Brasil. Purificar a alma nacional.
As máscaras, assim como as burcas no islamismo, serviriam como instrumento de dominação mundial pela retirada das liberdades individuais. As máscaras humilhariam e submeteriam os indivíduos à ditadura do multilateralismo esquerdista global. Sem pátria e sem Deus, entregaríamos nossa liberdade individual ao medo. Vacinas não, era o mote repetido noite, dia e madrugadas nas redes sociais do sinistro movimento. Machos alfa e mulheres de coragem não podem ter MEDO.
Medo infundado porque com a obediência ao tratamento precoce, por remédios sobejamente conhecidos e já prescritos pelo movimento bolsonarista, não existiria pandemia alguma. A máscara poderia ser enfiada no rabo dos esquerdistas que insistem em denegrir o movimento e armar uma conspiração — a conspiração das vacinas —; para desfazer o Mito e entronizar o monstro inimigo — e são muitos os monstros: todos aqueles que estão com a visão preservada e discordam da condução dos destinos do Brasil.