O olho de vidro de Costa Rego

Edberto Ticianeli

Como resultado do seu envolvimento político com Clodoaldo da Fonseca em 1912, Costa Rego se aproximou de Fernandes Lima, o vice-governador de Clodoaldo, que depois esteve no mesmo cargo com Baptista Accioly.

Fernandes Lima ainda governou Alagoas de 1918 a 1921, e de 1921 a 1924. Foi a ele que o deputado federal Costa Rego sucedeu em junho de 1924, eleito com o seu apoio.

Além de ter expressiva participação no governo de Clodoaldo, Fernandes Lima também tentou tomar as rédeas do governo de Baptista Accioly, o que provocou o rompimento entre os dois.

Da mesma forma, ensaiou fazer com Costa Rego, que não era exatamente alguém disposto a dividir poder. Também houve o rompimento.

No final de 1924, logo após Costa Rego assumir o mandato, Fernandes Lima já anunciava que pretendia controlar o governante.

Costa Rego

No ano anterior, o jornalista havia se separado da esposa Alzira Lopes da Costa Rego, com quem casou em 1907.

Dessa relação nasceram as filhas: Rosa da Costa Rego, Alzira da Costa Rego, Fernanda da Costa Rego e Maria de Lourdes da Costa Rego. Dois outros filhos, Pedro e Rosalvo, tiveram poucos meses de vida.

A separação se deu na prática, mas sem desdobramentos judiciais, sem divórcio. Essa situação colocava Costa Rego com um “solteiro” que não poderia casar novamente.

Foi nesse período que surgiu em Maceió uma viúva francesa, Mademoiselle Marcelle Sigaud, que se estabeleceu na Rua Silvério Jorge, em Jaraguá, e passou a receber visitas noturnas do governador.

Mal começaram as fofocas sobre o assunto e Fernandes Lima já estava procurando Costa Rego para aconselhá-lo, temendo o desgaste político que isso poderia causar.

— Não fica bem para um governador manter encontros deste tipo com todo mundo sabendo.

Costa Rego, que conhecia bem a família de Fernandes Lima e sabia que um dos seus filhos tinha um olho de vidro, resolveu ser “indireto” na resposta ao correligionário.

— Ô Fernandes, o Waldemar não tem um olho de vidro?

— Tem — respondeu o ex-governador já apreensivo.

— Mas ele tem porque gosta ou por necessidade? — insistiu Costa Rego.

— Por necessidade, é óbvio!

— Então deixe a minha francesa de lado. É o meu olho de vidro. Passe bem.

Meses depois romperam as relações políticas e um dos filhos de Fernandes Lima contratou um pistoleiro para matar Costa Rego quando ele estivesse na casa da francesa. Mas os gansos do vizinho salvaram o governador, que continuou a frequentar assiduamente a Rua Silvério Jorge.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *