Neofarisaismo e cumplicidade
Sergio Braga Vilas Boas
Não é um tema que apresente alguma facilidade para se escrever sobre. É algo que atinge entranhas e arquétipos cuja complexidade vai – copiando Bento Carneiro, o vampiro brasileiro, personagem criado pelo genial Chico Anísio – “para o além do aquém adonde que veve os morto”.
Não possuo autoridade para discorrer sobre, portanto por aqui vamos ficar no campo da opinião, que esta é parceira inseparável do “jus sperniandi”, ou seja, por mais obtusa que seja a criatura, lhe cabe o direito.
Quando perguntado pelos fariseus sobre qual o maior mandamento da Lei, segundo o Novo Testamento, em Mateus 22:37-40, Jesus respondeu:
37 – “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento.
38 – Este é o primeiro e maior mandamento.
39 – E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’.
40 – Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”.
O grifo no versículo 40 é nosso. Ali diz, caso ainda saiba eu ler, que todos os profetas dependem de viver o amor a Deus e ao próximo, e toda a lei depende de exprimir o amor a Deus e ao próximo, e que no versículo anterior, o 39, diz que no fundo ambos são a mesma coisa, ou complementares entre si.
Num momento anterior, ainda em Mateus 7:15-18, Jesus disse:
15 – “Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores.
16 – Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas?
17 – Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins.
18 – A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons”.
Cotejando os dois ensinamentos anteriores, podemos entender que é preciso produzir bons frutos, pois é por estes, que serão reconhecidos os verdadeiros profetas.
E, que seria produzir bons frutos? Entende-se que bons frutos são todas as atitudes em direção ao outro, ao próximo, que tenha por base o Amor. Logo, estão defenestradas a intolerância, o ódio, e outros sentimentos do gênero.
Mais adiante em Mateus 23:13-17:
13 – Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando.
14 – Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo.
15 – Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós.
16 – Ai de vós, condutores cegos! Pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor.
17 – Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro?
Os fariseus o crucificaram, pois Ele representava tudo o que eles não eram. Assim percebemos que 2021 anos após a morte física do Cristo, parte significativa dos que se declaram cristãos não aprendeu absolutamente nada.
Hoje crucificam-no todos os dias, ao esbanjar farisaísmo, vomitando regras do próprio gosto, fazendo ofertas no altar do ódio, da intolerância, da ignorância e da estupidez!
Ao se julgarem donos da verdade e apontarem caminhos diversos da pretensa salvação, diferentes daqueles que ensinou o Cristo, cultivam a genuflexão ao invés dos atos de amor em direção ao outro.
Cúmplices do atraso, fazem pouco caso da Onipotência, Onipresença e Onisciência do Criador, oferecendo-se como intermediários, detentores pagos da Sua agenda, quando não lançam a ira de Deus contra os que lhes questionam, como se fosse o Pai seu jagunço.
Criaram um deus, um bezerro de ouro para chamar de seu, e atiçá-lo como se fora um cão contra os incrédulos.
São tudo, menos cristãos!
Ótima narrativa.