Lenta agonia
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Vale ouro. É um tesouro. A caixa forte do Tio Patinhas na gaveta do presidente da Câmara dos Deputados do Brasil. O poder absoluto. Fora da curva de qualquer esqueleto de democracia no Ocidente. Até Pôncio Pilatos, general e governador da Judéia, preferiu lavar as mãos e empurrar para a turba a decisão da libertação e da crucificação.
Ora pois, como se diz em terras lusitanas, quanto mais demorar a decidir, mais moedas de ouro na piscina aquecida em banho maria e mais alto o trampolim dos ricaços da política. É uma opção. Sem dúvida.
Basta desviar o foco da atenção dos rebanhos de eleitores para outros assuntos, se os meios de comunicação assim permitirem: reforma tributária e reforma administrativa, por exemplo, interessa muito mais a quem tem a chave do cofre do que essa “invencionice” de pandemia e de desastre sanitário.
Uma bulha da pré-campanha da esquerda para tentar furar a bolha do poder. A bolha do poder armado da turma da floresta. Não há dúvida. Melhor sangrar em câmara lenta e ganhar dinheiro, muito dinheiro.
A história, no entanto, como ensinou o mestre Max Bloch — atenção não é Marx e nem é comunista —, apenas o maior mestre do estudo objetivo do que se pretende ciência histórica, é fundamentalmente feita por acidentes e não por voluntarismo.
As coisas não se passam como você deseja. Acontecem. Melhor quando há pitadas de vontade jogadas ao acaso na panela em ebulição.
Essa mistura fina de vontade e de acaso já começou a fermentar antecipadamente na CPI da Covid, que deverá ter início em 29 de abril de 2021 sob comando de uma tropa de choque de profissionais de largo coturno da história política do nosso indigente Brasil.
O acaso, como assinalou o mestre Bloch, é o de que os possíveis indiciados, de curta inteligência e máxima incompetência, confessaram publicamente todos os crimes antes do início das averiguações.
Um dossiê tecnicamente impecável que descreve, passo a passo, como o Brasil chegou a ser o epicentro mundial da pandemia mortal, que se arrasta no tempo com saldo momentâneo de maior morticínio da história do nosso querido e espoliado Brasil.
Quatrocentos mil cadáveres é um número suficiente para cremar os culpados na fogueira da inquisição senatorial.