As pedras da Georgia e a Nova Ordem Mundial
Edberto Ticianeli
Numa sexta-feira de junho de 1979, um cidadão norte-americano identificou-se como Robert C. Christian (nome falso) e entrou no escritório da Elberton Granite Finishing, uma fábrica de granito no condado de Elbert, na Georgia, anunciando que queria contratá-la para um grande serviço.
Foi recebido pelo proprietário, Joe Fendley, a quem se apresentou como representante de alguns anônimos “americanos leais” que pretendiam erguer um monumento em pedra, informando que esse projeto tinha sido mantido em segredo por 20 anos.
Ou seja, tinha surgido em plena Guerra Fria, quando se acreditava que a qualquer momento explosões nucleares exterminariam a humanidade.
O “enviado leal” explicou a Joe Fendley que a estrutura funcionaria ao mesmo tempo como bússola, calendário e relógio, mas teria que resistir a qualquer evento catastrófico. Tudo estava explicado, nos mínimos detalhes, num manual de 10 páginas.
O local, um terreno de dois hectares adquirido ao fazendeiro Wayne Mullinex, ficava a 14 km do centro de Elberton.
Desconfiando que estava tratando com um lunático, Fendley resolveu desencorajá-lo apresentando preço muito acima do razoável. Para sua surpresa, o contratante aceitou dizendo que pagaria o preço que fosse.
Robert Christian pagou e quando viu o empreendimento em execução, com cinco pilares de granito (5,87 metros de altura cada) sob uma laje, apareceu na empresa e se despediu do presidente: — Você nunca mais me verá!
As Pedras Guias da Georgia foram entregues à visitação pública no dia 22 de março de 1980.
Nelas estavam gravados em oito idiomas e quatro línguas já extintas (inglês, espanhol, suáli, hindi, hebraico, árabe, chinês e russo, e babilônio, sânscrito, grego e em hieróglifos egípcios) os “Dez Mandamentos para uma Nova Ordem”, pregando eugenia das raças, controle populacional e internacionalismo.
Os Novos Civilizadores “mandavam” que após o Apocalipse, surgiria uma civilização que, para não repetir os erros da atual, deveria:
- Manter a humanidade abaixo de 500 milhões de habitantes e em perpétuo equilíbrio com a natureza.
- Conduzir a reprodução sabiamente, aperfeiçoando a aptidão física e a diversidade.
- Unir a humanidade por meio de um novo idioma vivo.
- Controlar a paixão – fé – tradição – e todas as coisas com razão moderada.
- Proteger povos e nações com leis e tribunais justos.
- Permitir que todas as nações regulem-se internamente, resolvendo disputas externas em um único tribunal mundial.
- Evitar leis insignificantes e funcionários públicos desnecessários.
- Equilibrar direitos pessoais com deveres sociais.
- Valorizar a verdade, beleza e amor, procurando harmonia com o infinito.
- Não ser um câncer sobre a Terra, deixando espaço para a natureza.
O “Stonehenge Americano” logo passou a ser alvos de críticas por atrair grupos de ocultistas, desagradando as lideranças religiosas do local, que se referiam às orientações inscritas nas pedras como os “Dez Mandamentos do Anticristo”.
Entretanto, pouco a pouco estes mandamentos ganharam a simpatia e admiração de muitos, gerando acirrados debates sobre eles ou até mesmo atos de repulsa, como as pichações sobre as pedras: “Morte à Nova Ordem mundial”, “Vocês não terão sucesso” e “Jesus derrotará os satanistas“.
Enquanto esperam impavidamente pelo Apocalipse, as Pedras da Georgia continuam a alimentar dezenas de teorias da conspiração, mas fazendo crescer o número de visitantes ao local, que passou a ser parte importante no roteiro turístico daquele estado americano.
E sobre os ensinamentos da Nova Ordem Mundial?
Há alguma repercussão deles sobre as políticas adotadas pelos países?
O governo brasileiro, por exemplo, adotaria a orientação para ajudar a “Manter a humanidade abaixo de 500 milhões de habitantes e em perpétuo equilíbrio com a natureza” ou prefere tratar funcionário público como algo desnecessário?
Eu cheguei e estou me apresentando a vocês.