Tobias Granja e o depósito do coronel
Edberto Ticianeli
O jornalista Tobias Granja, assassinado no Centro de Maceió em 15 de junho de 1982, nem sempre foi o repórter consagrado, que chegou a chefe de reportagem na revista O Cruzeiro.
Em sua juventude em Maceió, antes de ir tentar a vida no Rio de Janeiro, foi caixa do Banco do Brasil.
Certo dia, quando ajeitava cheques e colocava em dia as contas correntes, recebeu um cidadão que deixava ver claramente que tinha origem no campo. Era um famoso “coronel” plantador de milho no sertão de Santana das Santas.
Aproximou-se do balcão, meteu a mão no bolso e fez brotar um enorme pacote de dinheiro. Mandou contar e pediu a papelada para abrir uma conta. Tinha Cr$ 200.000,00.
Olhou para Tobias Granja, aferindo o grau de confiança no bancário, e lhe disse:
— Seu moço, nunca tive conta em banco, mas vou arriscar porque estou com medo de ser roubado em casa. Vou lhe pedir que tome conta direitinho do meu dinheiro pra ninguém mexer nele. É dinheiro suado, seu doutor!
Com a garantia de um aperto de mão, o coronel do milho saiu da agência com um talão de cheques e toda orientação para usá-lo adequadamente.
— Estou às ordens, coronel, o senhor é quem manda! —, se despediu Tobias Granja.
Não deu 60 dias e lá estava o sertanejo, vestido em algodão azul e protegido do sol por um chapelão.
— Bom dia, “seu” Tobias! Tudo bem com o senhor?
— Tudo bem, coronel. A que devo a sua ilustre presença?
— “Seu” Tobias, vim ver o dinheiro.
Achando que o coronel queria sacar o dinheiro depositado, Tobias preparou o cheque para ele assinar e em seguida foi ao cofre e trouxe os Cr$ 200.000,00 solicitados.
Com o dinheiro sobre o balcão, o plantador de milho passou a contá-lo, cédula por cédula. Terminou, olhou demoradamente e passou a mão sobre as notas. Olhou mais uma vez e recomeçou a contagem.
Tobias Granja, do outro lado do balcão, aguardava pacientemente que o homem gastasse a saliva molhando os dedos de cem em cem cruzeiros.
Após a segunda contagem, o coronel deu sinais que estava satisfeito. Balançou várias vezes a cabeça afirmativamente, fez muganga com a boca e disse:
— Pode guardar novamente no cofre. Aqui está bem guardado. Não faltou nenhum centavo!
Foi embora e deixou o jovem caixa com a missão de não deixar o dinheiro do milho escapar do cofre do Banco do Brasil.