Prejuízos incomparáveis

Augusto Moura (com adaptações de Edberto Ticianeli)

Pão de Açúcar, no sertão alagoano, já foi um dos principais fornecedores de algodão descaroçado do Estado. Para se ter uma ideia, em 1925 ali existiam nove empresas beneficiando o produto e exportando para as indústrias de tecelagens.

Décadas depois ainda sobreviviam algumas delas, com destaque para a Prensa Jaciobá do Grupo Elísio Maia & Cia.

Foi de lá que partiu, certa noite, um caminhão transportando algodão para a cidade de Goiana em Pernambuco, onde estava instalada a Companhia Industrial Fiação e Tecidos Goyanna, uma das maiores do polo industrial têxtil do entorno do Recife.

O caminhão pertencia ao Grupo Gonçalves & Cia. e o motorista era um senhor conhecido como Negão, que falava com alguma dificuldade devido a acentuada gagueira.

Poucos minutos após deixar a cidade, o veículo passava no povoado de Impueiras no mesmo momento em que ali se realizava uma novena, com a tradicional queima de fogos, com girandolas e foguetes.

Para o azar do Grupo Gonçalves & Cia., um dos foguetes, após espocar, resolveu devolver a talisca ainda incandescente sobre o caminhão transportador da carga de algodão.

O fogo se propagou rapidamente e quando o motorista viu, só deu tempo de parar o veículo e pular fora dele. Em poucos minutos não tinha mais nem carga e nem caminhão.

Como a notícia do ocorrido chegou rapidamente a Pão de Açúcar, o proprietário da empresa se dirigiu imediatamente ao local e ao ver o que sobrou e calcular o enorme prejuízo, admoestou o condutor:

— Por que você não impediu isso? Devia ter descido rapidamente e apagado o incêndio. Você sabe o prejuízo que me deu?

Desesperado, Negão tentava explicar que não teve tempo para nada, mas a gagueira o travava:

— Fo… Fo… Fo… Fo… Foi… mu… mu… mu… muito rápido!

— E o meu prejuízo? Quem vai pagar? —, insistiu o empresário.

Negão, percebendo que naquelas palavras havia um convite para ele entrar de sócio no prejuízo, tentou se colocar também como vítima do infortúnio:

— Não foi só o senhor que teve prejuízo não, eu também tive! (texto já devidamente livre das reticências da gagueira).

— E o que foi que você perdeu? —, quis saber o irritado proprietário.

O motorista reuniu todas suas forças e de uma vez só conseguiu dizer:

— Perdi o meu chapéu!

Ficou por isso mesmo: “cada qual com o seu cada qual“!

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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