O Colégio Diocesano de Maceió e o frade obsceno

Edberto Ticianeli

Quem teve a ideia de criar o Seminário Episcopal e o Colégio Diocesano em Maceió foi o bispo D. Antônio Brandão, que tinha assumido a Diocese de Alagoas em 23 de agosto de 1901, pouco mais de um ano após a sua criação.

O Seminário entrou em funcionamento em 1902, provisoriamente instalado no convento franciscano de Marechal Deodoro, e o Colégio Diocesano somente começou a ser viabilizado no final do ano de 1904, quando seis Irmãos Maristas, liderados pelo Irmão Louis Channel, desembarcaram em Maceió.

Foi instalado na Rua do Sol e a sede própria começou a ser construída em setembro de 1906, mas somente foi inaugurada em 25 de março de 1914. Ficava na esquina da Rua do Macena com a Rua do Apolo.

Em pouco tempo se transformou numa grande instituição da educação em Alagoas, com centenas de alunos. Essa expressiva quantidade de jovens fez crescer o comércio instalado no entorno.

Colégio Diocesano na Rua do Macena

Um dos mais beneficiados foi a Bodega do Drumond, estabelecimento que funcionava na esquina em frente, o que facilitava o acesso dos alunos.

Quem precisasse de lápis, borracha, cartilha do ABC, Tabuada, caderno, papel pautado, bastava atravessar a rua e gastar alguns tostões com o Drumond, que sabiamente ampliou a oferta do seu negócio para algumas guloseimas.

Como os frades eram rigorosos com os alunos, inclusive com seus hábitos alimentares, foram ao bodegueiro e pediram para que ele vendesse aos alunos somente os apetrechos escolares.

Claro que o velho Drumond não gostou das restrições e ocorreu o desentendimento entre os educadores e ele.

Como represália, os religiosos passaram a punir os estudantes que fossem vistos comprando seus produtos ali, o que irritou o comerciante.

Com as vendas despencando, era comum encontrar o velho na porta do seu estabelecimento a “discursar” em franca defesa do liberalismo econômico.

Aproveitava para condenar os religiosos, sempre enviando congratulações às senhoras suas genitoras.

No auge da revolta, resolveu protestar de forma criativa. Esculpiu rudimentarmente em barro uma cabeça humana, colocou-a sobre uma armação de madeira e cobriu com um tecido marrom, simulando uma batina de franciscano.

Aproveitando a estrutura de madeira, montou uma engrenagem simples utilizando um pedaço de cabo de vassoura, que acionado por um cordel, levantava a batina fazendo surgir… o terminal do sistema genital masculino.

Bastava tocar a hora do recreio no Colégio Diocesano que o “frade obsceno” era arrastado para a porta da Bodega e iniciava suas exibições de “virilidade”, acionado à distância por um barbante.

Das janelas em frente a estudantada fazia a festa até que os irmãos Maristas chegassem para interromper as risadas.

Foi assim que o “frade” do Drumond se transformou em atração da cidade e logo o problema deixou de ser um simples confronto “armado” entre o Capital e a Religião para ser levado à esfera policial.

Depois de algumas audiências entre os envolvidos e o delegado de Polícia, foi estabelecida uma trégua: o “frade obsceno” deixaria de se exibir e os alunos não seriam mais punidos por frequentarem a Bodega do Drumond.

Claro que o bodegueiro comemorou a vitória do liberalismo e a volta da sua freguesia, agora ampliada pelos curiosos.

Os alunos entravam, se encostavam no velho balcão ensebado, esticavam o pescoço para dentro do estabelecimento e perguntavam:

— Seu Drumond, cadê o frade?

E caíam na gargalhada junto com o bodegueiro astuto.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

2 comentários em “O Colégio Diocesano de Maceió e o frade obsceno

  • 10 de julho de 2021 em 13:23
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    Exclente!!! Redação e história adoráveis!!! Parabens!!!

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