Vinicius, fim de tarde
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Eu aqui e você aí dando voltas em redor do sol e nunca nos encontramos olhos nos olhos, pele na pele; fim de tarde, sol em Itapuã. Whisky na varanda. Imortal.
Apesar do mar velejando na poesia da minha imaginação, nunca fui marinheiro. Não tive uma mulher em cada porto e nem um amor em cada esquina. Quis ser diplomata e poeta olhando no espelho, ainda jovem, e vendo no outro lado o velho poeta morrendo de amores.
Assim foi que, não sendo Vinicius e não querendo morrer de amor, desisti de ser poeta e fui trabalhar. Mas, no segundo whisky não resistia e escrevia nos guardanapos versos mensagens que entreguei a todas as minhas paixões, aqui e ali, enquanto Vinicius continuava deitado em sua rede dedilhando violões ao sol de Itapuã.
Foi sempre a lua cheia — e o lobo dentro de mim —, quem uivou nas tempestades das paixões; e na calmaria e quietude do amor sereno, lunar.
Como Vinicius, que sempre quis a chama, mesmo que não fosse eterna, lembro quando os meus olhos encontraram os seus, no verde novinho em folha do mar de nossa juventude: vi na espuma branca da areia a eterna desventura de viver o arrebentar das ondas nas partidas e despedidas dos instantes de amor.